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Análise

Intervenção militar externa é o melhor caminho para impedir uma guerra civil

A condição essencial para a assistência estrangeira é que só seja usada defensivamente, para deter os ataques das forças sírias

ANNE-MARIE SLAUGHTER
ESPECIAL PARA O “NEW YORK TIMES”

A intervenção militar estrangeira na Síria oferece o melhor caminho para impedir uma guerra civil longa e sangrenta. O lema dos que se opõem a uma intervenção é "a Síria não é a Líbia".

Na verdade, a localização da Síria é estrategicamente mais importante que a da Líbia; guerra civil prolongada seria muito mais perigosa para os interesses americanos. Os EUA têm grande incentivo para ajudar os vizinhos sírios a deter a matança.

Armar a oposição, a opção mais fácil, causaria exatamente o cenário que o mundo mais teme: uma guerra entre prepostos que afetaria Líbano, Turquia, Iraque e Jordânia, forçaria uma divisão da Síria em linhas sectárias e permitiria que a Al Qaeda e outros grupos terroristas estabelecessem presença.

Há uma alternativa. Os países do grupo Amigos da Síria poderiam estabelecer "zonas protegidas" que defendessem todos os sírios. O Exército Livre da Síria, força crescente de desertores do Exército governamental, poderia fixar essas zonas perto das fronteiras com Turquia, Líbano e Jordânia.

Estabelecer essas zonas requereria que países como Turquia, Qatar e Arábia Saudita equipassem os soldados oposicionistas com armas antitanque, antiaéreas e de proteção contra atiradores de elite. Forças especiais poderiam oferecer orientação tática e estratégica; enviá-las é viável tanto em termos logísticos quanto políticos.

A condição essencial para toda essa assistência é que seja usada defensivamente -só para deter ataques das Forças Armadas sírias ou eliminar forças do governo que ousem atacar zonas protegidas.

Ainda que limitar a escala de uma intervenção seja sempre difícil, a assistência internacional poderia ser restringida caso o Exército Livre da Síria tomasse a ofensiva. Nas zonas protegidas, a prioridade absoluta seria a segurança pública e a assistência humanitária. Ataques revanchistas não seriam tolerados.

Caso as forças do governo viessem a invadir as zonas protegidas, teriam de combater contra seus antigos camaradas de armas. Colocá-las nessa situação e oferecer aos soldados do governo a oportunidade de desertar serviria para demonstrar exatamente quantos dos integrantes do Exército sírio -estimado em 300 mil soldados- desejam lutar por Bashar Assad.

Turquia e Liga Árabe também deveriam ajudar a oposição interna da Síria de maneira mais ativa, com helicópteros não tripulados, para a entrega de cargas e armas e a defesa das áreas protegidas.

Como na Líbia, a comunidade internacional não deveria agir sem a aprovação e o convite dos países da região que sofrem as mais diretas consequências da guerra entre Assad e seu povo.

O poder dos manifestantes sírios deriva de sua determinação de enfrentar tiros com lemas, cartazes e seus corpos. A comunidade internacional deveria aproveitar o poder da não violência e criar zonas de paz para substituir o que hoje são zonas de morte. Os sírios têm a capacidade necessária à tarefa. Cabe ao mundo lhes fornecer os meios.

ANNE-MARIE SLAUGHTER, professora da Universidade de Princeton, foi diretora de planejamento político do Departamento de Estado dos EUA.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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