Presidente enfrenta deputados no Irã

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, atendeu ontem a uma convocação do Parlamento para se explicar sobre sua suposta má gestão e responder acusações de que desafia a autoridade do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, detentor da palavra final nos temas do regime.

Menos de duas semanas depois que seus aliados foram derrotados nas eleições legislativas, Ahmadinejad tornou-se o primeiro presidente iraniano a ser intimado pelo Parlamento.

A confrontação ocorreu antes da posse dos deputados recém-eleitos, que devem compor em maio um Parlamento ainda mais hostil ao presidente.

O debate entre deputados hostis e um presidente respondendo com piadas e provocação expôs publicamente o racha na cúpula do governo e deixou Ahmadinejad sob ameaça de impeachment.

Boa parte dos questionamentos envolveu casos notórios em que o presidente contrariou abertamente o líder supremo.

Em 2010, Ahmadinejad demitiu o então chanceler Manouchehr Mottaki, enquanto o ministro estava em plena visita oficial ao Senegal.

No ano seguinte, Khamenei determinou que Ahmadinejad recuasse da decisão de demitir outro ministro, Heidar Moslehi, da Inteligência. O presidente só reintegrou Moslehi após passar 11 dias isolado em sua residência -o que foi visto como uma espécie de greve presidencial.

Ahmadinejad negou ter contrariado Khamenei e respondeu em tom jocoso sobre o período passado em casa.

"Isso é uma daquelas coisas: Ahmadinejad ficou em casa descansando. Pois é, alguns dos meus amigos me disseram várias vezes para descansar. Neste governo, o trabalho não parou um dia sequer."

Ahmadinejad, no poder desde 2005, também respondeu a acusações de que enfraqueceu a economia, agora submetida a dificuldades maiores devido a novas sanções dos EUA e da Europa.

Ao final do debate, que durou uma hora e foi transmitida por rádio e TV, Ahmadinejad provocou os deputados dizendo que esperava perguntas mais difíceis.

"A pessoa que as escreveu certamente conseguiu seu diploma de formatura apertando um botão", disse o presidente, enfurecendo os parlamentares.

Apesar dos ataques, analistas dizem que há poucas chances de que as ameaças de impeachment sejam efetivadas, já que a queda do presidente abriria uma crise sem precedentes.