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Entrevista da 2ª Thomas Shannon Dilma reconhece que EUA gerenciam melhor a crise Emabixador afirma que, apesar das críticas que dirigiu ao seu país, mandatária sabe que "resposta" americana é superior À de outros ELIANE CANTANHÊDECOLUNISTA DA FOLHA O embaixador dos EUA em Brasília, Thomas Shannon, que participou dos encontros Dilma-Obama na semana passada, disse que os dois manifestaram preocupação com a crise europeia e seu efeito negativo sobre o crescimento da economia global. Segundo ele, Barack Obama e Dilma Rousseff concordaram em que "há a avaliação de que a Europa tem de fazer mais para melhorar a capacidade de crescimento." Shannon disse que a secretária de Estado, Hillary Clinton, discutirá Síria e Irã com o chanceler Antonio Patriota hoje em Brasília e que o Brasil terá um papel na negociação com o Irã sobre o seu programa nuclear, retomada anteontem em Istambul. Seguem os principais trechos da entrevista, concedida na embaixada, na sexta. - Folha - O foco da visita de Dilma foi a economia? Thomas Shannon - Um dos focos foi a economia, com o desejo de encontrar maneiras de aprofundar e melhorar as relações comerciais e de investimentos. O comércio bilateral está em US$ 74 bilhões, o mais alto da história dos dois países, e hoje o Brasil faz investimentos nos EUA em nível recorde. Mesmo assim, os dois presidentes reconhecem que podemos fazer mais. Em que áreas? Especialmente em ciência, tecnologia e inovação, em produtos de valor agregado na área industrial. E quanto às críticas de Dilma ao protecionismo e à desvalorização do dólar? Uma parte importante do nosso diálogo é a confiança de poder falar sobre as coisas que afetam os interesses nacionais. A presidente Dilma está preocupada não só com as políticas monetárias de vários países, mas com a falta de um vínculo entre elas, as políticas fiscais e as reformas estruturais. Dilma, porém, reconheceu que nos EUA há uma resposta às crises mais equilibrada do que em outras partes do mundo. Houve críticas à Europa? Não uma crítica, mas uma preocupação. Há uma preocupação e uma avaliação de que a Europa tem de fazer mais para melhorar sua capacidade de crescimento. Quando George W. Bush veio ao Brasil, o foco foi etanol. E agora, o que pesou mais, biocombustíveis ou petróleo? Os dois. Nossa relação na área de energia é diversificada, com interesse tanto na energia renovável, alternativa, como no pré-sal. O Brasil será um fornecedor importante de gás e de petróleo. Esse papel será bom para o Brasil e bom para a economia global. Funcionará como um estabilizador de preços no mercado energético. Algum avanço no plano conjunto para o etanol? Os dois países trabalham em diferentes frentes. Primeiro, para fazer uma commodity global de etanol. Segundo, para antecipar e avançar em ciência e tecnologia do etanol. Terceiro, para desenvolver um trabalho conjunto em outros países, para que eles desenvolvam sua capacidade de produzir etanol. Isso é importante porque a demanda para o etanol será maior do que nossa capacidade de produção e fornecimento. Por que o comunicado conjunto da visita foi tão vazio e tão amorfo sobre a Síria? Não foi vazio e amorfo... os dois presidentes lamentaram o abuso de direitos humanos no país, reconhecendo a importância de encontrar uma solução e abrir um espaço político para enfrentar os desacordos e as diferenças dentro da Síria. Brasil e EUA têm quase a mesma posição sobre Síria, apesar de às vezes expressarmos nossas posições com vocabulários diferentes. Em que Hillary e Patriota podem avançar quanto à Síria? O importante agora é trabalhar dentro do Conselho de Segurança [da ONU] e ganhar o apoio do órgão para encontrar uma solução, aproveitando o trabalho da Liga Árabe e do secretário-geral da ONU. A solução é tirar Assad? Eventualmente. É quase impossível, ou melhor, impossível imaginar que a solução na Síria inclua Assad. É aí que está a diferença da posição brasileira? O Brasil insiste em que é o povo da Síria que tem de tomar essa decisão, mas, do nosso ponto de vista, a situação chegou a um ponto em que Assad pode até começar um processo de transição, mas não concluí-lo. O que Obama e Dilma conversaram sobre Irã? Os dois presidentes falaram sobre a importância de encontrar uma solução diplomática para o Irã. Por que o Brasil foi excluído da nova rodada de negociações em Istambul? Não é que foi excluído. Historicamente, o P5+1 [as cinco potências do Conselho de Segurança mais a Alemanha] é que assume a dianteira, mas claro que há espaço para o engajamento de outros países. Que papel? O que Hillary e Patriota podem acertar? Vou deixar que eles mesmos falem sobre isso, mas há poucos países no mundo em que o Irã tem confiança, e o Brasil é um deles. Dilma fez gestão junto a Obama contra a suspensão da venda dos aviões Super Tucanos para a Defesa dos EUA? O presidente Obama explicou que estamos num processo de aperfeiçoar o sistema de contratos da nossa Força Aérea e, no momento que abrirmos de novo esse contrato, a Embraer terá a oportunidade de participar mais uma vez. Sem compromisso? É um processo competitivo de um contrato, mas a Embraer tem nossa confiança. Obama falou sobre a proposta da Boeing para vender 36 aviões de caça para a FAB? Sim. A venda dos caças é importante para nós. Quais os próximos passos a partir da visita de Dilma? A vinda da secretária Hillary será importante. Depois, virá o secretário de Defesa, Leon Panetta, para um novo diálogo nessa área. Em que direção? Há a visão de um Brasil que está modernizando as Forças Armadas, especialmente na área de sistemas importantes, como submarinos, caças e capacidade de o Exército controlar as fronteiras. Há oportunidades na área comercial. O Brasil está assumindo um papel importante na manutenção da paz. Isso aumenta o perfil das Forças Armadas do Brasil no palco global de maneira positiva. E na aviação civil? A secretária Hillary e o ministro Patriota assinaram um acordo para os vários setores privados e sistemas públicos envolvidos em aviação articularem uma política de "open sky" [sem barreiras e limites para voos comerciais entre os dois países]. Quantos anos até o fim da exigência de vistos? Não sei, mas não serão muitos anos, não. Qual o prazo para o início dos dois novos consulados, em Porto Alegre e em BH? Acho que já em 2013. Dilma disse nos EUA que essa é a última Cúpula das Américas sem Cuba. Será? É a nossa esperança. Uma Cuba democrática, entrando na OEA e na Cúpula das Américas, seria algo fantástico. Com ou sem os irmãos Castro? Democrática, seja como for. A declaração de Dilma desejando sucesso a Obama foi encarada como manifestação de apoio à reeleição dele? Eu deixo à presidente a resposta, mas ficou óbvio que os dois líderes têm uma excelente relação. Quando dois presidentes têm confiança, respeito e amizade, eles não querem perder essa relação. Obama virá à Rio+20? Vamos ter uma delegação de alto nível aqui. Obama apoiou a Índia no Conselho de Segurança, mas continua em cima do muro quanto ao Brasil. O que falta? O problema da reforma não são os EUA, que são um aliado do Brasil nessa questão. O problema são países que não querem a reforma, alguns deles membros dos Brics que o Brasil conhece bem. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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