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Análise Marca da disputa de hoje é a baixa temperatura política JOÃO BATISTA NATALICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA O espantoso nas eleições presidenciais de hoje na França está em sua baixa temperatura. Para um país enamorado de confrontos doutrinários, o socialista François Hollande e o presidente Nicolas Sarkozy, de centro-direita, não têm divergências fundamentais sobre o peso do Estado e, em lugar de cortar gastos, sugerem novos impostos para diminuir a dívida pública, hoje em torno de 90% do PIB. Os dois principais candidatos também coincidem em diagnósticos fracos sobre a perda da competitividade francesa. Há dez anos, diz a "Economist", o salário por hora na França era em 8% inferior ao da Alemanha. É hoje em 10% superior. As exportações francesas estagnaram, o que dificulta baixar o desemprego, que ainda está perto dos 10%. A diferença entre o atual presidente e seu maior adversário é bem mais de estilo pessoal. Os socialistas descobriram que Sarkozy desagradava aos franceses por seus modos excessivamente "kitsch". Teve Carla Bruni, modelo e cantora com quem se casou, cooper em via pública e um excesso de informalidades bizarras para o ocupante de um cargo que, na França, exige imponência meio majestática. Mais recentemente Sarkozy demonstrou afinidades com Pinóquio ao dizer que em viagem ao Japão visitou a usina de Fukushima, que testemunhou em novembro de 1989 a queda do Muro de Berlim, ou que jamais cogitou vender um reator nuclear à Líbia. Puras inverdades nascidas da imaginação, lembra o jornal "Le Monde". Nas presidenciais de 2007, ele levou a melhor porque, por detrás das propostas de campanha que valorizavam o individualismo, seu jeito superativo contrastava com o sorriso estático de ameba da socialista Ségolène Royal. Agora Hollande, aliás ex-marido de Ségolène, leva a melhor no jogo de imagens por não ter nenhuma ambição ao carisma. Ganha pontos pelo histórico do Partido Socialista e, sobretudo, por ser o mais viável dos concorrentes anti-Sarkozy. O primeiro turno a ser disputado hoje traz como pão amanhecido a candidata Marine Le Pen, da extrema direita xenófoba, que tem entre suas promessas favorecer a contratação de trabalhadores franceses e só dar complemento de renda às famílias em que um dos cônjuges não seja estrangeiro. Segundo as pesquisas, ela disputa a terceira colocação com Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda, formada por dissidentes do PS, velhos marxistas independentes e o quase finado Partido Comunista Francês. De um radicalismo refinado e aprazível, foi o autor da mais excêntrica proposta eleitoral: confisco pelo IR de todo ganho superior a R$ 900 mil anuais. Diante de tudo isso, as eleições presidenciais francesas ganharam feições de entretenimento político. Estão longe do confronto entre dois modelos de sociedade, como em 1981, entre o socialista François Mitterrand e o conservador Giscard d'Estaing. Mesmo porque a União Europeia engessou qualquer mexida institucional mais insolente ou atrevida de seus integrantes. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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