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¿Qué pasa, España?

Com o desemprego em alta e a autoestima em baixa (até no futebol), país europeu vive seu inferno astral

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Desemprego é recorde em 18 anos. Governo subirá impostos em 2013. Pep Guardiola deixa o Barcelona.

Na última sexta-feira, assim despertavam os espanhóis, já habituados a tomar café da manhã com um cardápio de notícias indigestas.

De uma segunda recessão à descoberta de que o rei Juan Carlos foi caçar elefantes na África a convite de um magnata saudita, passando por empresas desapropriadas por mandatários latino-americanos e derrotas dos seus dois maiores times de futebol, o Real Madrid e o Barcelona, o país atravessa uma espécie de inferno astral depois de viver mais de uma década de anos dourados.

A mudança também afeta o ânimo dos espanhóis, que se tornaram mais apáticos, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

Na década passada, o país crescia em torno de 4%, ainda desfrutando do bom momento do mercado imobiliário. A população havia enriquecido, passou a viajar mais e a comprar uma segunda ou até terceira propriedade.

O quadro político era estável e ídolos esportistas levavam os principais títulos na Fórmula 1 (Fernando Alonso), no tênis (Rafael Nadal), e no futebol, culminando com a conquista da Copa de 2010.

A bolha estourou em 2008, levando consigo a economia e a autoestima do país.

FILA ATÉ PORTUGAL

"Foi como despertar de um sonho. É tanta notícia ruim que já nos tornamos um pouco apáticos a elas. Tirando, é claro, as derrotas do Real Madrid e do Barcelona na Copa dos Campeões [principal torneio de clubes europeu]. Isso é difícil aceitar", brinca o historiador Ramon Casado, que vê uma mudança no ânimo dos espanhóis.

Em geral envolvidos com temas políticos e com o hábito de manter discussões apaixonadas, os espanhóis desenvolveram uma atitude passiva ante a espiral de más notícias, segundo o antropólogo Julio Estrella.

"É um mecanismo de defesa típico de períodos de guerra e depressões econômicas", afirma.

"O que não é novidade para ninguém, só para o rei, que estava caçando elefantes", disse o comediante Andreu Buenafuente, famoso por um talk show televisivo no qual, a cada domingo, ironiza a situação econômica do país.

"O tamanho da nossa fila de desemprego é estratégico. A ideia é fazê-la chegar a Portugal para dizermos que são de lá", diz.

A taxa de desemprego, divulgada a cada trimestre pelo instituto de estatística, é o indicador que mais preocupa e afeta o humor dos espanhóis. Hoje está em 24% (52% para os mais jovens).

OÁSIS BASCO

É justamente da região com o menor índice de desemprego, o País Basco (norte), que vem um time futebol que vai para uma final europeia, o Athletic Bilbao.

A taxa de desempregados na região está em 14%.

É também no País Basco onde está o maior número de restaurantes estrelados do país, um dos setores menos afetados pela crise. A explicação, para o chef basco Andoni Aduriz, eleito o terceiro melhor do mundo pela revista inglesa "Restaurant", é que os setores que exigem criatividade dos espanhóis consiguem escapar.

"O espanhol é criativo, mas acho que estávamos acostumados com o bom momento. Temos que aprender a perder. Até no futebol."

LADEIRA ECONÔMICA

A economia espanhola experimentou no primeiro trimestre seu "segundo mergulho" na recessão, com queda de 0,3%. O desemprego já afeta 24,44% da população economicamente ativa e o país teve a nota de sua dívida rebaixada de novo recentemente, bem como 11 grandes bancos do país -entre eles o Santander

BAIXA APROVAÇÃO

O premiê Mariano Rajoy não convence os espanhóis. Uma pesquisa recente publicada pelo "El País" mostra que 64% da população têm uma avaliação negativa dos primeiros cem dias de seu governo. Para 70%, ele não inspira confiança, e 56% dizem que não enfrenta a crise econômica de forma adequada

EXPROPRIAÇÕES

Em abril, o governo argentino decidiu expropriar quase a totalidade das ações da espanhola Repsol na petroleira YPF, deixando-a com apenas 6% de participação. Anteontem, a Bolívia nacionalizou a empresa de capital espanhol responsável por 85% da eletricidade no país. A boliviana TDE representava 1,5% para a espanhola REE

ESCÂNDALOS REAIS

O rei Juan Carlos pediu perdão pela primeira vez em quase 40 anos no trono após viajar para caçar elefantes em Botsuana durante a crise no país. Também se viu envolvido no escândalo do genro, Iñaki Urdangarin, acusado de corrupção e desvio de dinheiro. Para completar o mau momento da realeza, o neto do rei, Felipe, 13, atirou no próprio pé

BOLA MURCHA

Sem pão, nem circo. Os espanhóis não puderam nem afogar suas mágoas econômicas e políticas no futebol. Os dois principais times do país, Barcelona e Real Madrid, foram eliminados na semifinal da Copa dos Campeões, apesar do favoritismo

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