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Eleitorado francês vai às urnas hoje em busca de um Asterix

DO ENVIADO A PARIS

O presidente Nicolas Sarkozy entrou na campanha eleitoral com o mais baixo índice de popularidade da história da Quinta República, inaugurada em 1958.

Fácil de explicar: crescimento econômico médio inferior a 1% no seu quinquênio; desemprego de quase 10%, a maior porcentagem em 12 anos; dois anos de recessão em cinco.

A lógica diria que Sarkozy seria triturado nas eleições. Não está sendo.

Foi rejeitado, é verdade, por quase 3/4 do eleitorado (obteve apenas 27,18% dos votos), mas perdeu para o socialista François Hollande no primeiro turno por mero 1,4 ponto percentual. Chega ao segundo turno com uma redução sistemática da diferença que o separa de Hollande nas pesquisas: de 10 pontos, logo depois do turno inicial, a diferença caiu para 4, no limite da margem de erro.

Como explicar esse desafio à lógica? Em parte, pelo pouco charme de Hollande. Tanto que Christine Ockrent, ícone do telejornalismo francês, disse que a disputa era entre "um candidato que não agrada [Sarkozy] e um que não convence [Hollande]".

Mas a sobrevida de Sarkozy talvez se deva à síndrome de Asterix, o herói da resistência gaulesa aos romanos.

Os romanos de hoje são a globalização, os imigrantes, um capitalismo sem freios que ameaça o Estado de Bem-Estar que orgulha a França.

Pesquisa recente mostrou que, no Reino Unido, na Alemanha, nos EUA e até na China, nominalmente comunista, entre 55% e 70% acham o livre mercado -a nau capitânia da globalização- o melhor modelo econômico. Na França só 31%.

Sarkozy enrolou-se na bandeira tricolor para apresentar-se como o Asterix moderno, disposto a defender o que chama de "civilização francesa" contra a "desordem do mundo" causada pelo "desaparecimento das fronteiras políticas, econômicas, culturais e morais". Seu discurso, ao contrário do de Hollande, resvalou com força na xenofobia, na caça desesperada aos votos da extrema-direita.

Talvez por isso, o líder socialista chega à decisão como favorito, mas sem segurança de vitória.

O que não deixa de ser contraditório: Hollande acha que as políticas de austeridade estão destruindo o Estado de Bem-Estar Social de que os franceses tanto gostam.

Depõe, por exemplo, James Bond, ex-Banco Mundial, hoje conselheiro do banco Lazard Frères: "O público francês gosta da 'Sécurité Sociale', o sistema público de saúde, que provê cuidados de qualidade para todos; respalda o sistema de transferência de recursos que garante uma aposentadoria para todos aos 62 anos; rede de segurança para os menos privilegiados; assistência às mães que trabalham; infraestrutura de alta qualidade e, acima de tudo, segurança no emprego sem precedentes, férias generosas, e uma semana de trabalho de 35 horas".

Quem não gostaria disso? O problema é como financiar o modelo. Os franceses decidirão quem é capaz de fazê-lo, mas o primeiro turno mostrou que nenhum dos dois os convenceu plenamente. (CR)

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