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Morre o escritor mexicano Carlos Fuentes

Intelectual, que tinha 83 anos, foi embaixador e ocupava lugar de destaque no debate social e político de seu país

Autor, que estava em plena atividade, sentiu-se mal na madrugada de ontem e não resistiu a hemorragia interna

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Morreu ontem, aos 83, o escritor mexicano Carlos Fuentes, um dos últimos remanescentes do chamado "boom latino-americano" (movimento literário de repercussão internacional nos anos 60 e 70).

Fuentes sentiu-se mal na madrugada de ontem, em sua casa, na Cidade do México. Levado ao hospital, detectou-se uma hemorragia, provavelmente causada por uma úlcera, que o levou à morte às 12h15 (14h15 em Brasília).

A notícia tomou de surpresa o mundo literário. Fuentes estava em plena atividade.

Havia participado da Feira do Livro de Buenos Aires, no início do mês, e escrevia uma série de artigos sobre a eleição francesa, além de um novo romance, "Federico en Su Balcón", que a Rocco deve lançar neste ano no Brasil.

O presidente Felipe Calderón manifestou-se publicamente em sua conta no Twitter, lamentando o ocorrido.

Após ser velado pela família, seu corpo seria levado hoje ao Palacio de Bellas Artes para cerimônia pública.

Filho de um diplomata, Fuentes nasceu no Panamá em 11 de novembro de 1928 e viveu em vários países, como Argentina, Brasil e EUA.

Escreveu mais de 20 livros, entre eles clássicos da literatura latina, como "La Región Más Transparente", "Aura" e "A Morte de Artêmio Cruz". Uma de suas obras mais recentes, o ensaio "La Gran Novela Latinoamericana" deve sair também pela Rocco.

Com o Nobel Octavio Paz, fundou, em 1955, a Revista Mexicana de Literatura.

Fuentes foi ganhador dos prêmios Cervantes (1987) e Príncipe de Asturias (1994) e seu nome era sempre cotado entre os possíveis vencedores do Nobel de Literatura.

Admirador de Machado de Assis, Fuentes acreditava que o brasileiro era o herdeiro de Miguel de Cervantes na América do Sul, ideia que defendeu em um famoso ensaio, "Machado de la Mancha".

A literatura, porém, não era sua única paixão: ele envolvia-se no debate político de seu país. Formado em direito pela Universidade Autônoma do México, foi representante mexicano em organismos internacionais e embaixador na França (1972-76).

Apoiador de primeira hora da Revolução Cubana, distanciou-se do regime de Fidel devido a seu autoritarismo.

Participava ativamente das discussões sobre os rumos do México e era crítico tanto com relação ao PRI (Partido Revolucionário Institucional), que ficou no poder por mais de 70 anos, quanto ao atual partido de situação, o PAN (Partido da Ação Nacional).

Recentemente, manifestava criticamente com relação à guerra contra o crime organizado iniciada em 2006 por Calderón. Também se uniu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em iniciativa pelo fim da guerra contra as drogas.

Fuentes lecionou em universidades internacionais e recebeu o título de catedrático em Harvard (EUA) e Cambridge (Reino Unido). Anteontem, fora feito doutor "honoris causa" pela Universidade das Baleares (Espanha).

Fuentes era casado com a jornalista Silvia Lemus, com quem teve dois filhos, mortos tragicamente: Natasha, aos 29, viciada em drogas, e Carlos, aos 25, hemofílico. "Eu os convoco, na hora de escrever estão comigo, imagino o que poderiam imaginar, e isso me ajuda a mantê-los vivos."

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