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Disputa eleitoral no Egito alça políticos do regime Mubarak

Ahmed Shafiq, ex-premiê do ditador deposto no ano passado, ganha impulso na reta final da campanha

Candidato afirmou que, caso eleito, não tolerará mais protestos na praça Tahrir, que foi o berço da revolução de 2011

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Se há poucos meses alguém dissesse que a primeira eleição presidencial livre no Egito seria liderada por políticos com longo histórico de serviços prestados ao antigo regime, provavelmente seria tachado de louco.

No entanto, na confusa reta final da campanha, a possibilidade de alguém da velha guarda chegar em primeiro parece real, a julgar pelas pesquisas de opinião e pelo clima nas ruas.

Na ausência de um candidato dos grupos liberais responsáveis por deflagrar a revolta contra a ditadura de Hosni Mubarak, a disputa será travada entre a velha guarda e os islamitas.

Numa campanha cheia de tropeços e reviravoltas, a surpresa dos últimos dias foi a ascensão de Ahmed Shafiq, ex-comandante da Aeronáutica que foi o último premiê nomeado por Mubarak.

Num país que por seis décadas foi dominado por um único partido e por eleições fraudadas, as pesquisas são vistas com desconfiança.

Mas as chances de Shafiq começaram a ser levadas a sério quando ele apareceu em primeiro lugar numa sondagem do centro Baseera, financiado pelo jornal independente "Al Masry al Youm", poucos dias atrás.

Em outra pesquisa, do jornal estatal "Al Ahram", a liderança ficou com Amr Moussa (40,8% das respostas), que foi chanceler de Mubarak entre 1991 e 2011, seguido de Shafiq (19,9%).

Na mesma sondagem, o islamita Abdel Moneim Aboul Fotouh, dissidente do maior grupo político do país, a Irmandade Muçulmana, vem em terceiro, com 17,8%.

Em seguida, aparece Mohamad Mursi, do partido da Irmandade, o Liberdade e Justiça, com 9,4%.

A desunião entre os islamitas e a decepção com seu desempenho no Parlamento desde a conquista de mais de 70% do Legislativo nas eleições do início do ano ajudaram a derrubar a popularidade dos candidatos religiosos.

A possibilidade de Shafiq ser eleito é vista pelos ativistas da revolta anti-Mubarak como um amargo reverso da fortuna. Ele afirmou que não irá tolerar protestos na praça Tahrir caso vença o pleito.

Para a jornalista Shahira Amin, que virou símbolo de resistência ao ser demitida da TV estatal por sua cobertura independente das manifestações, a possível vitória de Shafiq seria "desastrosa".

"Isso seria impensável há algumas semanas, mas a campanha de terror dos militares convenceu muita gente de que é melhor alguém ligado ao antigo regime, para restabelecer a segurança", diz.

É o caso do estudante de direito Hossam Gamal, 20, que protestou pela saída de Mubarak em 2011. Ele não vê contradição em apoiar um ex-militar do antigo regime. "Precisamos de um líder forte e com experiência neste momento de instabilidade."

O arquiteto Mohamed Adel, 31, membro da Irmandade Muçulmana, diz que as pesquisas são mentirosas e espera que seu candidato vença já no primeiro turno, marcado para quarta e quinta.

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