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Egito tem eleição polarizada e indefinida

Metade do eleitorado está indecisa para o 1º turno, em cenário dividido por islamitas e ex-aliados de Mubarak

Pesquisas de opinião são vistas como pouco confiáveis, o que eleva suspense para pleito que tem início hoje

Marcelo Ninio/Folhapress
Omar "Picasso" pinta, na praça Tahrir, epicentro dos protestos no Cairo, grafite de candidatos à Presidência do Egito
Omar "Picasso" pinta, na praça Tahrir, epicentro dos protestos no Cairo, grafite de candidatos à Presidência do Egito

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

O Egito dá largada hoje à primeira eleição presidencial livre e pluralista de sua história, no momento mais esperado da conturbada transição iniciada com a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro do ano passado.

A calma incomum que prevaleceu nos últimos dias da campanha não esconde a tensão de uma disputa polarizada entre candidatos com passado ligado a Mubarak e os de orientação islamista.

No lado secular, os principais nomes são Amr Moussa, ex-chanceler de Mubarak, e Ahmed Shafiq, último premiê nomeado pelo ditador.

Os islamistas mais cotados são Abdel Aboul Fotouh, independente, e Mohamed Mursi, do partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana.

A indefinição é outra marca desse duelo. Entre um campo e outro, há uma massa de indecisos, estimada em metade do eleitorado.

Mas não há indiferença: a campanha domina todas as conversas, deflagra acaloradas discussões de rua e gera intensa expectativa.

Aumentando a incerteza, a votação em primeiro turno hoje e amanhã escolherá um presidente sem prerrogativas demarcadas, já que a nova Constituição ainda está por ser escrita. Deve haver segundo turno em junho.

Além disso, poucos creem que a junta militar que rege o país desde a renúncia de Mubarak abrirá mão de seus poderes, mesmo que cumpra a promessa de transferir o governo após as eleições.

A recuperação da economia e o restabelecimento da segurança, ambas em declínio desde a queda de Mubarak, são apontados como prioridades pelos eleitores.

Muitos egípcios ficaram sem opção entre os 12 candidatos que estão na briga.

Principalmente os jovens ativistas que lideraram os protestos anti-Mubarak, forçados a escolher um "mal menor", e não a renovação democrática que almejavam.

Epicentro da revolta, a praça Tahrir viveu ontem mais um dia sem sobressaltos, mas não sem protesto.

"Vou boicotar a eleição. Como posso escolher entre agentes da ditadura e islâmicos radicais"?, disse Omar "Picasso", enquanto concluía um retrato de Moussa e Shafiq como seguidores de Mubarak e do marechal Tantawi, chefe da junta militar.

Para alguns, porém, a prioridade é clara: evitar a vitória de alguém ligado a Mubarak. Foi o caso de Ahmed Maher, líder de um dos principais grupos jovens, que declarou seu voto a Foutoh, tido como islamista moderado. Outros, temendo a islamização do país, preferem Moussa.

O cenário mais temido por todos eles é uma vitória de Shafiq. "Haverá uma guerra civil se ele ganhar", afirma Ahmed Hassan.

Novidade no Egito, as pesquisas de opinião são tidas como pouco confiáveis.

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