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Escândalo foi ponto de mudança para a investigação jornalística nos EUA e no mundo

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Watergate foi o ponto de mudança, quando o jornalismo americano passou a acreditar em sua própria lenda. Foi quando "follow the money", siga o dinheiro, se tornou a regra inscrita em pedra para toda investigação jornalística, não só nos EUA.

A expressão não aparece nos blocos de anotação do repórter Bob Woodward, na voz de sua fonte, "Garganta Profunda", nem no livro-reportagem "Todos os Homens do Presidente", que ele escreveu com Carl Bernstein. Ela nasceu no filme hollywoodiano e é criação do roteirista William Goldman.

No momento em que festeja os 40 anos do caso, o "Washington Post" já não é o mesmo. No primeiro trimestre, sua publicidade caiu 17% no papel e 7% na internet. Em conteúdo, voltou a ser o jornal regional de antes de derrubar um presidente.

E talvez sobreviva pouco: um mês atrás, o presidente do "Post", Steve Hill, afirmou que prêmios "não importam" e defendeu mais "galerias de fotos" para elevar a audiência do site do jornal.

Na semana passada, pela primeira vez desde os anos 70, Woodward e Bernstein assinaram juntos um texto comemorativo no "Post", intitulado "Nixon era muito pior do que pensávamos", listando os ataques do ex-presidente às instituições americanas.

A festa de gala reuniu os dois repórteres e o também lendário editor Ben Bradlee. Woodward e Bernstein questionaram então se seria possível cobertura semelhante hoje, quando se acredita que tudo pode ser descoberto e repercutido on-line.

Para o crítico de mídia Howard Kurtz, do Daily Beast, foi uma celebração "do próprio jornalismo, daquele breve momento quando fazer jornal foi saudado como uma profissão nobre".

Jack Shafer, crítico de mídia da Reuters, é mais cruel: "Se você acrescentar uns poucos barcos e alguns chapéus ridículos à cobertura do 'Post' para o 40º aniversário de Watergate, você poderia chamá-la de jubileu da rainha."

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