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Líbia tem primeiro pleito livre em 60 anos

Votação formará Congresso Nacional, com a tarefa de redigir Constituição de país marcado por rivalidades tribais

Derrubada de aeronave com cédulas eleitorais e outros atos de violência revivem a ameaça de desintegração do país

Giovanni Diffidenti/France Presse
Cartazes das eleições em Misrata, na Líbia; mais de 1.400 candidatos disputam as 200 vagas para o Congresso Nacional
Cartazes das eleições em Misrata, na Líbia; mais de 1.400 candidatos disputam as 200 vagas para o Congresso Nacional

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Os líbios vão hoje às urnas sob a expectativa da primeira eleição livre e multipartidária no país em 60 anos.

Mais de 1.400 candidatos disputam os 200 lugares do Congresso Nacional, que formará um governo interino e redigirá a nova Constituição.

O risco de desintegração do país e atos de violência recentes confirmaram as expectativas mais pessimistas que precederam a queda do ditador Muammar Gaddafi, morto por rebeldes em outubro, após 42 anos no poder.

Ontem um helicóptero com material de votação foi derrubado a tiros no leste do país, supostamente por milícias contrárias à eleição.

As milícias do leste, berço da revolução e principal região produtora de petróleo, exigem o mesmo número de assentos no Parlamento que o oeste, mais populoso e onde fica a capital, Trípoli.

Mas há também sinais de otimismo e recuperação, como no setor de petróleo, responsável por 70% do PIB.

Após uma queda drástica durante a guerra civil, nos últimos meses a produção atingiu metade dos níveis pré-conflito, dando um certo fôlego para a reconstrução.

A estimativa é de que a produção só estará normalizada em 2014. A prioridade é estabilização política e a construção de instituições confiáveis.

"Os relatos de violência e caos são exagerados", disse à Folha o médico Mohamed el Fortia, candidato independente de Misrata, um dos principais bastiões da revolta. "Há focos de insatisfação com a partilha do bolo, mas a maioria apoia as eleições."

Os grupos mais proeminentes na disputa são o Partido da Justiça e Construção, ligado à Irmandade Muçulmana, e a Aliança de Forças Nacionais, de partidos liberais, liderada por Mahmoud Jibril, que foi premiê durante a guerra.

VÁCUO

Quase metade da população de 6,3 milhões está registrada para votar, motivada pela oportunidade histórica.

Mas o vácuo deixado pelo antigo regime ameaça engolir o país num turbilhão de rivalidades tribais e políticas.

A grande questão é como um Parlamento formado por forças tão diversas -incluindo islamitas, liberais, líderes tribais e ex-comandantes rebeldes- chegará a um consenso sobre a nova Líbia.

A superioridade numérica da região de Trípoli (oeste), onde vive metade da população, é confrontada pela força política de Cirenaica (leste), onde fica Benghazi, a "capital da revolução", e pelas divisões tribais de Fezzan (sul).

O governo provisório não tem o controle do território, e milhares de rebeldes se recusam a entregar suas armas.

"Não há instituições do Estado para administrar a transição, forças de segurança para manter a paz e união nacional para garantir uma transição segura", diz um estudo recente do centro americano Carnegie Endowment.

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