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Análise

Entre barganhas e confrontos, disputa com a junta continuará

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

À primeira vista, o decreto baixado pelo presidente do Egito, Mohamed Mursi, é um desafio frontal à autoridade da junta militar, e encerra a curta lua de mel iniciada com a posse do islamita, há apenas nove dias.

Mas o silêncio dos generais despertou especulações de que o ato foi coordenado com a cúpula militar. Nesse caso, seria uma trégua, não um novo round. Mas não reduziria o potencial de confronto.

Ao tomar posse, Mursi fez pose de conciliador, enquanto deixava claro que manteria a pressão sobre os militares para recuperar os poderes da Irmandade Muçulmana cassados pela junta.

Depois de entrar atrasado na revolução que depôs o ditador Hosni Mubarak e se afastar dos protestos, a bordo de uma confortável maioria no Parlamento, o grupo islâmico voltou às ruas.

Epicentro da revolta anti-Mubarak, a praça Tahrir perdeu a diversidade dos protestos iniciais e virou, desde a vitória de Mursi, "território ocupado" por militantes da Irmandade Muçulmana.

A legitimidade das urnas e a pressão da praça são uma fonte importante de oxigênio para um presidente que tomou posse esvaziado.

O Parlamento foi dissolvido por ordem do Supremo e o Exército se apropriou de prerrogativas presidenciais no dia da eleição. Um golpe, gritou a Irmandade Muçulmana. Levou apenas oito dias para o contragolpe.

Por decreto, Mursi revogou a ordem do Supremo e mandou reinstalar o Parlamento, incumbindo-o de redigir a nova Constituição.

Mas também convoca eleições parlamentares após a aprovação da Carta, implicitamente aceitando a dissolução do Parlamento, numa brecha para acomodação.

A disputa vai continuar, caminhando na linha tênue entre a barganha política e o confronto direto, como nos últimos 60 anos.

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