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Síria admite pela 1ª vez ter arma química

Porta-voz da Chancelaria afirma que, 'se elas existirem', só serão usadas em caso de intervenção militar externa

Especialistas suspeitam que arsenal de Assad seja um dos maiores do mundo; conflito segue em 2 metrópoles sírias

Bulent Kilic/Efe
Rebeldes sírios durante confronto entre as forças do regime de Bashar Assad e a insurgência, nas proximidades de Aleppo
Rebeldes sírios durante confronto entre as forças do regime de Bashar Assad e a insurgência, nas proximidades de Aleppo

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ANTAKYA (TURQUIA)

Num pronunciamento que elevou as preocupações de que a guerra civil na Síria escale para um novo patamar de violência, Damasco admitiu pela primeira vez possuir armas químicas e ameaçou usá-las caso sofra uma intervenção militar externa.

Pressionado pelo avanço das tropas rebeldes nas duas principais cidades do país, o regime ressaltou, porém, que não usará armas de destruição em massa contra civis.

"A Síria jamais usará qualquer arma química ou outras não convencionais contra seus civis e as usará só em caso de agressão externa", disse o porta-voz da Chancelaria síria, Jihad Makdissi.

A ameaça foi feita em tom ambíguo, com ressalvas de que "tais armas, se elas existem", estão armazenadas em lugar seguro, disse Makdissi.

Foi a primeira vez em que o regime mencionou seu arsenal de armas químicas, que especialistas suspeitam ser um dos maiores do mundo.

O temor de que o regime sírio recorra a armas não convencionais ronda a Síria desde o início da revolta contra o regime do ditador Bashar Assad, há 16 meses -a oposição já estima 19 mil mortos.

Em março, um oficial do Exército Livre da Síria, a principal milícia anti-Assad, disse à Folha que o regime sírio começara a distribuir máscaras a seus soldados, para a possibilidade de usar armas químicas contra desertores.

Na semana passada, fontes de inteligência dos EUA disseram que o governo sírio moveu parte do arsenal. Israel disse que poderá agir militarmente para impedir que armas químicas sejam transferidas ao grupo libanês Hizbollah, aliado de Assad e inimigo do Estado judeu.

O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou ontem que Assad "prestará contas à comunidade internacional se cometer o trágico erro" de usar armas químicas.

A Chancelaria síria disse mais tarde que as palavras do porta-voz foram distorcidas a fim de "preparar a opinião pública mundial para a possibilidade de uma intervenção militar sob a falsa premissa de armas de destruição em massa, semelhante à que ocorreu no Iraque".

Ativistas da oposição relataram que os combates entre forças do regime e rebeldes continuaram ontem no centro das principais metrópoles sírias, Damasco e Aleppo.

Uma moradora da capital contou à Folha que o bairro de Midan, perto do centro, foi alvo de artilharia pesada, apesar de os rebeldes terem sido forçados a deixar o local há três dias. Segundo ela, a cidade continua sitiada e pouca gente sai de casa.

O governo sírio, por sua vez, diz que em breve a capital "voltará à normalidade".

Em Aleppo, cidade mais populosa e principal centro econômico, os combates se intensificaram, levando centenas de moradores a deixar suas casas. Vídeo divulgado pela oposição mostra rebeldes comemorando num tanque capturado do Exército.

A União Europeia aprovou novas sanções contra Damasco, incluindo a proibição à companhia aérea síria de operar nos países do bloco.

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