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Irã revê sua política de natalidade e pede que casais tenham mais filhos

Levantamento recém-divulgado indica queda abrupta da taxa de nascimentos no país em 2011

Ministério da Saúde lançou apelo para mulheres e suspendeu todos os programas de planejamento familiar

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Sob crescente risco de ver sua população declinar, o Irã está pedindo às famílias que tenham mais filhos.

O Ministério da Saúde lançou apelo na semana passada incentivando mulheres a terem "cinco ou seis crianças" como forma de resgatar "[nossa] cultura verdadeira".

Para reforçar o recado, o ministério suspendeu os programas de planejamento familiar. A ampla distribuição de contraceptivos foi qualificada de "errada" pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

O regime decidiu reverter duas décadas de controle de natalidade após se alarmar com os recém-divulgados resultados do censo populacional de 2011, feito seis anos após o levantamento anterior.

A pesquisa mostrou que a taxa de crescimento da população no país é de apenas 1,3%. Cada mulher iraniana tem em média 1,6 filho, contra 5,2 em 1986 -uma das quedas mais abruptas já registradas no mundo.

Um quinto dos casais iranianos não tem filhos, e 17,5% possuem apenas um.

Se a tendência for mantida, a população do Irã começará a diminuir a partir de 2030, segundo a ONU.

"O número de filhos precisa atingir a todo custo a meta de dois por família, mesmo que isso cause desemprego, porque desemprego é melhor do que extinção", disse Mohammad-Javad Mahmoudi, pesquisador do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Especialistas afirmam que governos, diante de populações que encolhem ou crescem de forma insuficiente, têm dificuldades para garantir o financiamento de aposentadorias e saúde pública.

Analistas também especulam que o Irã pode estar tentando mostrar ao mundo que não tem medo das sanções econômicas impostas por causa do programa nuclear.

GANGORRA

O Irã há décadas alterna políticas pró e antinatalidade. Nos anos 70, a monarquia no poder queria um baixo crescimento populacional, nos moldes do modelo europeu de transição demográfica.

Após a Revolução Islâmica de 1979, o regime pediu aos iranianos que fizessem mais filhos para formar um "Exército de 20 milhões de soldados" capaz de vencer a guerra com o Iraque. Com o fim do conflito, Teerã adotou uma política de extrema restrição populacional para prevenir desemprego em massa.

Um primeiro esforço por mais filhos foi iniciado pelo atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, com direito a pagamento de mensalidade escolar até os 18 anos de idade de cada criança.

Todas as mulheres ouvidas pela Folha disseram que o apelo por mais filhos será inócuo, por causa das sanções, do desemprego e da hiperinflação. "Adoraria ter um filho, mas não tenho condições financeiras", disse a servidora Shahin Naderi, 33.

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