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Clóvis Rossi

O novo mundo árabe vem aí

Presidente do Egito garante presença na cúpula dos países árabes com os da América do Sul

Pela primeira vez na história, um presidente do Egito virá à América do Sul. Chama-se Mohamed Mursi, pertence ao grupo islamita Irmandade Muçulmana, acaba de tomar posse e será uma das atrações da terceira Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes), a realizar-se nos dias 1º e 2 de outubro em Lima, no Peru.

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, toma a vinda de Mursi como uma evidência de um inédito interesse pela região por parte da classe dirigente que emergiu a partir da Primavera Árabe.

"É um contraste impressionante com o interesse apenas remoto que encontramos, eu e o ministro Celso Amorim [então chanceler], quando fazíamos as sondagens para a primeira Aspa, em 2005", rememora Patriota.

O contraste é também animador, posto que o que o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, chama de "novo mundo árabe" está interessado em democracia, combate à pobreza e progresso social -ingredientes necessários, essenciais mesmo, nesse "novo mundo" e que têm caracterizado a América do Sul.

Outro detalhe relevante: o ditador sírio, Bashar Assad, nem sequer foi convidado. Não se trata, em todo o caso, de rejeição ao tipo de governo que caracteriza a Síria. Afinal, entre os países que fazem parte do mundo árabe, há mais "velhos mundos árabes", na forma de ditaduras, do que propriamente nações democráticas. A vinda de Assad é uma impossibilidade prática.

A pergunta seguinte óbvia é: está a diplomacia sul-americana preparada para receber, eventualmente, uma delegação dos opositores a Assad? Patriota usa um argumento que faz sentido: ainda falta muito para a cúpula (50 e poucos dias; em uma situação como a que a Síria vive, é de fato uma eternidade).

O chanceler torce para que os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido) consigam chegar a um consenso que permita desmilitarizar o conflito sírio e, com isso, tentar implantar o acordo a que chegou no dia 30 de junho o chamado grupo de ação para a Síria.

Previa um governo de transição que desse voz a todos os atores, com um cronograma para implementação, além, como é óbvio e preliminar, da cessação da violência.

Era uma forma edulcorada de sugerir a saída de Assad, posição defendida pelos países ocidentais e também pela Liga Árabe, com a qual o governo do Brasil está em contato permanente.

O contato permanente não significa que a diplomacia brasileira endosse a posição da Liga. Continua aferrada ao programa do grupo de ação, que viverá nas próximas semanas dois momentos eventualmente decisivos: na semana que vem, a ONU decide se prorroga ou não a presença dos seus observadores na Síria (cinco são brasileiros). A não prorrogação abriria todas as portas à definitiva militarização do conflito.

Depois, até o fim de agosto, o Conselho de Segurança dá um "upgrade" na discussão ao convocar uma reunião dos ministros dos países-membros, em vez de deixar o debate em mãos dos embaixadores nas Nações Unidas.

São momentos que determinarão o efetivo tamanho do "novo" no "novo mundo árabe".

crossi@uol.com.br

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