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Filha quer punição por morte de peronista

Braço direito de líder argentino, José Ignacio Rucci foi alvejado a tiros na porta de sua casa, em Buenos Aires

Deputada Claudia Rucci alega que seu pai foi morto por montoneros, guerrilha peronista de esquerda, em 1973

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Em sua foto mais conhecida, Jose Ignacio Rucci aparece segurando um guarda-chuvas (veja ao lado). Baixinho, o líder sindical levanta o braço o máximo que pode para proteger um homem grande e sorridente. Seu nome é Juan Domingo Perón.

Naquele chuvoso 17 de novembro de 1972, o general desembarcava de seu exílio na Espanha.

Braço direito de Perón e poderoso líder dos trabalhadores sindicalizados, Rucci tinha uma influência muito grande no círculo íntimo do general e foi um dos responsáveis pela campanha que o reconduziu à Presidência.

Era o principal representante da ala direita do peronismo. Por conta disso, a ala esquerda, os militantes e guerrilheiros, o odiavam.

Rucci foi assassinado a tiros na porta de sua casa no bairro de Flores, em Buenos Aires, no dia 25 de setembro de 1973, apenas dois dias depois da eleição de Perón.

"Sua morte tem um significado político crucial para entender a violência dos anos 70 e a ditadura que veio depois", diz à Folha sua filha, a deputada Claudia Rucci.

Representante do peronismo dissidente e opositor a Cristina Kirchner, Claudia crê que o atual governo está promovendo uma leitura parcial daquela época.

"Só se julgam os crimes cometidos pela repressão estatal e posteriores ao ano do golpe (1976), mas houve muito sangue e muitos crimes antes motivados pela guerrilha. Se não entendermos o que aconteceu, não vamos impedir que ocorram novamente."

VERSÕES

Claudia vem lutando para que sejam condenados os responsáveis pela morte de seu pai. O crime foi reivindicado à época pelos montoneros (guerrilha peronista de esquerda), o que levou Perón a romper com o grupo.

Nos anos 90, para poder ter acesso a uma indenização, a família Rucci aceitou a versão proposta pelo governo Carlos Menem de que o assassinato havia sido cometido pela Triple A (grupo de repressão comandado pelo Estado).

Porém, em 2008, o livro "Operación Traviata", do jornalista Ceferino Reato, trouxe à tona evidências de que o assassinato havia sido, realmente, obra dos montoneros.

Com base nele, Claudia reabriu a causa e passou a pressionar para que os membros do grupo guerrilheiro fossem ouvidos, em especial o líder Mario Firmenich, beneficiado pela lei de Anistia e atualmente exilado na Espanha.

Na semana passada, porém, veio mais uma derrota para os Rucci. O juiz Ariel Lijo admitiu que o crime deveria ser atribuído aos montoneros, mas que estaria prescrito por ser um ato civil.

A causa foi novamente arquivada. "Nós vamos apelar e, se não resultar em nada, iremos buscar os tribunais internacionais", diz Claudia.

O que está em discussão no caso Rucci é a aplicação da lei com relação à violência dos anos 70. A Justiça argentina considera que devem ser julgados apenas crimes cometidos pelo Estado, porque configurariam crimes de lesa-humanidade, e portanto não prescrevem.

Já crimes cometidos por civis prescrevem num prazo de 15 ou 20 anos, dependendo da gravidade. Claudia Rucci, assim como outras vítimas dos atos da guerrilha no período, são contra a distinção.

"O que está havendo é uma reescrita da história onde há bandidos e mocinhos. Bandido é apenas o governo militar, e mocinhos são os guerrilheiros, ainda que tenham promovido violência", diz.

Seu principal argumento para seguir com a causa é que, em 1973, os montoneros faziam parte do aparato do Estado, portanto o crime pode ser considerado de lesa-humanidade. "Naquela época, os montoneros tinham gente nos ministérios, na alta cúpula do governo, eles eram o Estado", diz.

Claudia pedirá que sejam ouvidos os supostos autores materiais do crime e historiadores e jornalistas que se dedicaram a estudar o caso. O juiz Lijo ainda não se pronunciou sobre a apelação.

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