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Itália condena sete cientistas por não prever terremoto

Em 2009, o abalo sísmico em L'Aquila matou mais de 300 pessoas e deixou cerca de 65 mil desabrigadas

Justiça alega que os especialistas foram negligentes; cientistas dizem ser impossível fazer previsão exata

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um tribunal da Itália condenou ontem sete cientistas a cumprir seis anos de prisão por não terem previsto o terremoto que atingiu o país em 2009, na cidade de L'Aquila, região de Abruzzo. Mais de 300 pessoas morreram.

Todos os cientistas, que vão recorrer em liberdade, eram membros da Comissão Nacional para Previsão e Prevenção de Riscos.

Foram acusados de negligência, por não terem analisado corretamente as possibilidades do terremoto acontecer e, assim, alertar as autoridades.

Entre os sete condenados estão grandes nomes da ciência italiana, como o professor Enzo Boschi, que presidiu o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, e o vice-diretor da Defesa Civil, Bernardo de Bernardinis.

Cientistas de diversas partes do mundo protestaram contra a decisão do tribunal em condená-los por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

Em protesto, uma carta com mais de 5.000 assinaturas de cientistas foi entregue ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, alegando que a ciência não possui meios para prever terremotos, e que o processo pode impedir que futuramente especialistas aconselhem governos a respeito de riscos sísmicos.

IMPREVISÍVEL

Segundo a técnica de sismologia do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP) Célia Fernandes, é muito difícil identificar o momento exato em que irá acontecer um abalo sísmico.

"Todos os profissionais de sismologia trabalham com o objetivo de prever terremotos, mas não existe regra na natureza. Mesmo a recorrência de sismos não é garantia de que um terremoto de grande magnitude está prestes a acontecer", afirma.

Os cientistas se reuniram na cidade de L'Aquila em 31 de março de 2009, seis dias antes do terremoto, e não comunicaram sobre a chance de um abalo sísmico.

Para o tribunal, eles falharam por terem subestimado os riscos, limitando a ação das autoridades públicas, que não tiveram tempo suficiente para tomar medidas necessárias para proteger a população.

Segundo os promotores, uma série de tremores de baixo nível atingiu a região nos meses que antecederam o terremoto e isso deveria ter sido interpretado pelos especialistas como um sinal do que estava para acontecer.

O terremoto de magnitude 6,3 graus atingiu L'Aquila em abril de 2009. Além das mortes, também feriu outras 1.500 pessoas.

Estima-se que 65 mil tenham ficado desabrigadas. A condenação dos cientistas ainda não é definitiva. Eles devem entrar com um recurso.

(FERNANDA KALENA)

Com agências de notícias

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