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São Paulo, quinta-feira, 01 de janeiro de 2004

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EUROPA

Mandato do premiê italiano foi marcado por gafes

Acaba a temporada do imprevisível Berlusconi na presidência da UE

LAURENT ZECCHINI
DO "LE MONDE", EM BRUXELAS

Silvio Berlusconi chegou ao fim de 2003 em clima de auto-satisfação, com o término do período de seis meses na presidência da União Européia. O cargo está desde hoje com a Irlanda. O premiê italiano diz que seu mandato foi concluído "de forma absolutamente positiva", com resultados até melhores do que ele previa.
Teria sido o caso se o encontro de cúpula de Bruxelas, em meados de dezembro, tivesse permitido a adoção de uma Constituição européia, o que não ocorreu. Foi este, aliás, o maior teste a que foi submetida sua presidência.
Nos dias que sucederam ao malogro da cúpula, os diplomatas europeus fizeram uma constatação convergente: em caso de sucesso, ao menos seria possível esquecer as gafes diplomáticas e os excessos verbais de Silvio Berlusconi. Mas, como a cúpula fracassou, são esses episódios que entrarão para a história do semestre.
A estratégia adotada por Berlusconi durante a cúpula européia não foi a única causa do impasse diplomático, provocado sobretudo pela intransigência da Polônia e da Espanha em fazer concessões quando ao peso dos votos de cada país na UE.
Mas Berlusconi entregou-se a fanfarronadas, afirmando trazer no bolso "uma fórmula de compromisso" e em seguida "quatro fórmulas" a propor, desapontando seus colegas europeus quando estes descobriram que os bolsos dele estavam vazios.
Um diplomata que acompanhou a cúpula disse que não chegou a ocorrer durante o encontro uma negociação entre chefes de Estado e de governo. Entre eles tampouco circularam fórmulas escritas de compromisso.
As críticas a Berlusconi foram exacerbadas por seus deslizes e pelas gafes que cometeu com a Alemanha. Tratou de "kapo" (guarda dos campos nazistas) um eurodeputado alemão, o que provocou um mal-estar em Berlim. O ministro italiano do Turismo fez declarações insultantes aos alemães em férias na Itália.
Mais graves foram suas iniciativas isoladas com relação à Rússia e a Israel. Sem levar em conta as reservas dos demais governantes europeus, ele não hesitou em apoiar de forma ostensiva Vladimir Putin no encontro UE-Rússia de 6 de novembro.
No início de seu mandato semestral, Berlusconi acatou pressões israelenses e se negou a visitar Iasser Arafat. E em novembro, contrariando as reservas européias, deu a Ariel Sharon um apoio incondicional quando da visita dele a Roma.
Se a maior parte dos diplomatas europeus é severa ao julgar Silvio Berlusconi, alguns deles enxergam lados positivos em sua gestão técnica da presidência. Os franceses, por exemplo, elogiam a agilidade do primeiro escalão italiano, sobretudo a habilidade do chanceler, Franco Frattini.
A presidência italiana pode também reivindicar o sucesso do acordo em torno de um programa europeu de grandes obras de infra-estrutura.



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