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EUROPA
Mandato do premiê italiano foi marcado por gafes
Acaba a temporada do imprevisível Berlusconi na presidência da UE
LAURENT ZECCHINI
DO "LE MONDE", EM BRUXELAS
Silvio Berlusconi chegou ao fim
de 2003 em clima de auto-satisfação, com o término do período de
seis meses na presidência da
União Européia. O cargo está desde hoje com a Irlanda. O premiê
italiano diz que seu mandato foi
concluído "de forma absolutamente positiva", com resultados
até melhores do que ele previa.
Teria sido o caso se o encontro
de cúpula de Bruxelas, em meados de dezembro, tivesse permitido a adoção de uma Constituição
européia, o que não ocorreu. Foi
este, aliás, o maior teste a que foi
submetida sua presidência.
Nos dias que sucederam ao malogro da cúpula, os diplomatas
europeus fizeram uma constatação convergente: em caso de sucesso, ao menos seria possível esquecer as gafes diplomáticas e os
excessos verbais de Silvio Berlusconi. Mas, como a cúpula fracassou, são esses episódios que entrarão para a história do semestre.
A estratégia adotada por Berlusconi durante a cúpula européia
não foi a única causa do impasse
diplomático, provocado sobretudo pela intransigência da Polônia
e da Espanha em fazer concessões
quando ao peso dos votos de cada
país na UE.
Mas Berlusconi entregou-se a
fanfarronadas, afirmando trazer
no bolso "uma fórmula de compromisso" e em seguida "quatro
fórmulas" a propor, desapontando seus colegas europeus quando
estes descobriram que os bolsos
dele estavam vazios.
Um diplomata que acompanhou a cúpula disse que não chegou a ocorrer durante o encontro
uma negociação entre chefes de
Estado e de governo. Entre eles
tampouco circularam fórmulas
escritas de compromisso.
As críticas a Berlusconi foram
exacerbadas por seus deslizes e
pelas gafes que cometeu com a
Alemanha. Tratou de "kapo"
(guarda dos campos nazistas) um
eurodeputado alemão, o que provocou um mal-estar em Berlim. O
ministro italiano do Turismo fez
declarações insultantes aos alemães em férias na Itália.
Mais graves foram suas iniciativas isoladas com relação à Rússia
e a Israel. Sem levar em conta as
reservas dos demais governantes
europeus, ele não hesitou em
apoiar de forma ostensiva Vladimir Putin no encontro UE-Rússia
de 6 de novembro.
No início de seu mandato semestral, Berlusconi acatou pressões israelenses e se negou a visitar Iasser Arafat. E em novembro,
contrariando as reservas européias, deu a Ariel Sharon um
apoio incondicional quando da
visita dele a Roma.
Se a maior parte dos diplomatas
europeus é severa ao julgar Silvio
Berlusconi, alguns deles enxergam lados positivos em sua gestão
técnica da presidência. Os franceses, por exemplo, elogiam a agilidade do primeiro escalão italiano,
sobretudo a habilidade do chanceler, Franco Frattini.
A presidência italiana pode
também reivindicar o sucesso do
acordo em torno de um programa
europeu de grandes obras de infra-estrutura.
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