São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2007

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Bush ignora sugestão de retirada

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA FOLHA

Veterano observador do que se passa em Washington confessou-se impressionado com a atenção medíocre dada às tão esperadas recomendações do Grupo de Estudos do Iraque, que, depois de meses de trabalho, sugeriu no início de dezembro uma retirada escalonada das tropas americanas do país árabe e negociações com o Irã e a Síria.
Nem os democratas da oposição, fortalecidos nas urnas, deram ao grupo a acolhida esperada. A santificação antecipada tornou-se um desmonte conduzido a toque de caixa pelo próprio presidente George W. Bush.
Diante da tragédia no Iraque, Bush pai convocou James Baker, ex-secretário de Estado, para mais uma missão de socorro. Ele já havia chefiado os advogados que travaram as lutas judiciais envolvendo a contagem de votos na Flórida, em 2000.
A tarefa agora seria tirar os pés do filho do lodaçal iraquiano. Formou-se um grupo com o selo de imparcialidade dado pela presença de um político oposicionista, Lee Hamilton. Baker era a figura dominante num círculo de pessoas tidas como pouco ou nada informadas sobre o Iraque. Importavam seus movimentos, como o de contatar o embaixador do Irã na ONU em sondagens sobre possibilidade de diálogo.
Foi seu grande pecado diante de Bush filho, a quem devia salvar e que acabou virando as costas a ele. Isto ficou claro numa conversa que Rice teve com o pessoal do "Washington Post".
Ela começou criticando a pouca ênfase dada pelo grupo à democracia. Ou até pouca importância, por propor diálogo com países (Irã e Síria) que "subvertem a democracia no Líbano". Os EUA, segundo Rice, "sempre foram mais efetivos quando usam seu poder em defesa de princípios". Rice renegou como "falsa estabilidade" o que resultar de "acomodações com as ditaduras do Irã e da Síria". A prova de que Baker é seu alvo principal está na observação de que ele não "entendeu" o quanto o Oriente Médio mudou em 15 anos.
Época remota em que Baker fez ponte-aérea em busca de paz entre palestinos e Israel. Como estará reagindo, sobretudo intimamente, Bush pai ? Outro de seus homens, Robert Gates, que fez parte do grupo, tornou-se secretário da Defesa . Compensaria a impotência de Baker? Ele negou que o recente fortalecimento da presença militar naval dos EUA no golfo Pérsico tenha a ver com as "provocações" do Irã. A rede de televisão CBS garantiu que tem. Gates também está sob ordens de Bush para preparar o envio de mais tropas ao Iraque. A recomendação do grupo é de retirada.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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