São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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Farc suspendem libertação de reféns

Chávez anuncia suspensão na TV; grupo atribui cancelamento a "operações militares" colombianas

Uribe responsabiliza Farc, se dispõe a abrir "corredor estratégico" para libertação e diz que menino que seria solto estaria em orfanato

Reuters - 24.nov.2007
Álvaro Uribe cumprimenta soldados na véspera do Natal em Santa Marta; o presidente, que culpa as Farc pelo impasse na operação, viajou ontem a Villavicencio

DA REDAÇÃO

Depois de cinco dias de expectativa, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram, ontem à tarde, que suspenderam "por agora" a entrega de três reféns em seu poder, que havia sido prometida no dia 18 de dezembro ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Em comunicado que o próprio Chávez leu na TV, a organização atribuiu a suspensão à intensificação de operações militares colombianas na região de Villavicencio, a cem quilômetros de Bogotá.
Na cidade, helicópteros venezuelanos esperavam havia cinco dias para buscar os seqüestrados Clara Rojas, assessora da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, seu filho Emmanuel, nascido em cativeiro e fruto da relação com integrante das Farc, e a ex-congressista Consuelo González. "Senhor presidente [Chávez], as intensas operações lançadas na região nos impedem por agora de entregar [os três reféns], como era nosso desejo.
Insistir nisso, nestas condições, seria pôr em grave risco a vida das pessoas a liberar, dos demais prisioneiros de guerra e dos próprios guerrilheiros designados para cumprir a missão", diz o comunicado lido por Chávez, pouco antes das 18h de ontem (horário do Brasil).
Depois de ler a nota, Chávez pediu que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, suspendesse as operações militares até a libertação dos três reféns.
"Um cessar-fogo abriria uma porta e permitiria que se mantenha a opção [de entregar os reféns a uma missão organizada pela Venezuela] por um dois ou três dias mais."
O presidente venezuelano também levantou a possibilidade de mudar a "fórmula" para a soltura dos seqüestrados.

Uribe e Emmanuel
Uribe, que ontem cedo viajara a Villavicencio, negou responsabilidade pelo impasse. "Não houve combates nesta área nas últimas semanas", afirmou ele, que se disse disposto a abrir um "corredor estratégico para facilitar que as Farc trasladem os seqüestrados, segundo a proposta feita pela Venezuela".
Mas Uribe também qualificou de "cínica e mentirosa" a atitude das Farc e afirmou que o grupo não entregou os reféns porque o menino Emmanuel não estaria com a guerrilha, mas num orfanato em Bogotá.
Ele pediu a colaboração do governo venezuelano para fazer um teste de DNA na avó da criança, que está em Caracas à espera da filha e do neto.
Segundo Luis Carlos Restrepo, alto comissário para a Paz do governo, Uribe foi a Villavicencio a fim de se reunir com o grupo de observadores internacionais que está na cidade desde sábado e dizer que a culpa da postergação na entrega dos reféns não é de Bogotá.
"Que fique claro que quem descumpriu [o acordo] foram as Farc, que não entregaram as informações [local na selva onde estarão os reféns]", disse Restrepo. "As Farc são um grupo que reiteradamente mente e engana [...] Fica absolutamente claro que até o momento não há um canal de comunicação com o coordenação da delegação venezuelana", continuou.
As Farc haviam anunciado no a libertação dos três seqüestrados em "desagravo" a Chávez, que fora afastado em novembro por Uribe da mediação das negociações para a troca de 45 reféns do grupo por 500 guerrilheiros presos.
Chávez, então, organizou e anunciou a "Operação Emmanuel" para recuperar os três. Logo após o anúncio da missão, o presidente Uribe, pressionado pelo apoio internacional à iniciativa, deu o seu aval.
Anteontem, Chávez já havia admitido que a "Operação Emmanuel" poderia durar dias, e acusou "atores internos e externos" à Colômbia -incluindo os EUA- de ações hostis contra a libertação.

Casa Branca
A Casa Branca divulgou que Uribe conversou ontem por telefone com o presidente dos EUA, George W. Bush, sobre a missão. Segundo o governo americano, o colombiano disse a Bush que ainda estavam sendo trabalhados "vários pontos" da operação.
Entre os demais reféns das Farc, há três americanos que participavam do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico e à guerrilha -pelo qual os EUA já transferiram mais de US$ 4 bilhões em armas e financiamento a Bogotá nos últimos cinco anos.
Entre os observadores internacionais que esperavam desde sábado em Villavicencio estão ainda o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, e o ex-presidente argentino Néstor Kirchner.


Com agências internacionais e FABIANO MAISONNAVE, de Caracas

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