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Chavistas aclamam lei dos superpoderes
Sessão na praça Bolívar, no centro de Caracas, durou três horas e meia e reuniu cerca de 500 partidários do presidente
Vice-presidente diz que governo quer instaurar "ditadura de todos"; opositor pede a seguidores que "não abandonem luta"
DA REDAÇÃO
Em três horas e meia de sessão aberta na praça Bolívar, no
centro de Caracas, o Congresso
venezuelano aprovou e sancionou ontem, por aclamação, a lei
que dá superpoderes ao presidente Hugo Chávez pelos próximos 18 meses.
"Viva a pátria de Bolívar! Viva o povo soberano! Viva o presidente Hugo Chávez! Viva o
socialismo!", disse a presidente
da Assembléia Nacional, Cilia
Flores, ao declarar sancionada
a chamada Lei Habilitante
diante dos 167 parlamentares,
todos chavistas, e cerca de 500
apoiadores do governo.
A oposição, que teve 37% dos
votos na eleição presidencial de
dezembro, não tem representantes na Assembléia porque
boicotou o pleito legislativo de
2005, sob o argumento de que o
Conselho Nacional Eleitoral
era favorável a Chávez.
Pela lei, que a Assembléia encaminharia ainda ontem para a
promulgação pelo Executivo,
Chávez está autorizado a governar por decreto, criando leis
em 11 áreas ao todo -entre elas
segurança, finanças, energia,
impostos, participação popular
e defesa-, sem precisar da sanção legislativa.
No discurso, Flores disse que
a ampliação dos poderes legais
do Executivo -a mais abrangente já concedida a um presidente do país- permitirá à Venezuela "aprofundar a revolução bolivariana e a construção
de um novo modelo socialista".
Sem a presença de Chávez
-que na segunda-feira estava
em Cuba, em visita ao ditador
Fidel Castro-, foi o vice-presidente, Jorge Rodríguez, quem
defendeu o governo das críticas
de opositores e analistas, que
vêem na Lei Habilitante o ápice
da escalada de concentração de
poder nas mãos de Chávez.
"Claro que queremos instaurar uma ditadura, a ditadura da
democracia verdadeira, e a democracia é a ditadura de todos", discursou Rodríguez.
"Que tipo de ditadura é essa
que afirma que se deve democratizar a renda, que se deve investir nas pessoas?"
O vice-presidente, que foi
nomeado por Chávez, agradeceu à Assembléia por ter "posto
gasolina e acionado" ontem "o
primeiro motor" das mudanças
sociais no país.
A Lei Habilitante foi a terceira na Venezuela a ser votada
em praça pública, modalidade
batizada pelos apoiadores do
governo de "parlamentarismo
social de rua" e criticada pela
oposição. As leis da Polícia Nacional e de Segurança também
foram aprovadas em sessões
abertas em 2006.
Ontem, quatro tendas foram
armadas na praça Bolívar para
receber os partidários de Chávez. Depois do discurso de parlamentares e de líderes de conselhos comunitários, os pontos
da lei foram lidos e aprovados
por aclamação. Deputados e seguidores assentiam, levantado
a mão.
Com a promulgação da lei,
será a segunda vez que Chávez,
autorizado pelo Congresso, governará com superpoderes. Em
2001, sob a regra, assinou 49
leis. Desta vez, quer reformar a
Constituição do país, aprovada
em referendo em 1999, para
permitir a reeleição ilimitada.
Anteontem, o partido opositor Primeiro Justiça entrou
com ação no Tribunal Supremo
de Justiça pedindo que se definam os limites da Lei Habilitante e questionando se não seria necessária uma nova Constituinte para as reformas que
Chávez quer fazer.
O líder do partido, Julio Borges, pediu ontem que os venezuelanos que votaram contra
Chávez não sejam alijados do
processo decisório. "O pior que
podemos fazer é jogar a toalha e
e abandonar a luta, como ostras", disse.
Antes de Chávez, em outras
seis ocasiões o Congresso venezuelano ampliou o poder de
presidentes. A Lei Habilitante
está na Constituição desde
1961, mas restringia o governo
por decreto aos setores econômico e financeiro e por no máximo 12 meses. Em 1999, na reforma constitucional impulsionada por Chávez, esses limites
desapareceram.
Com agências internacionais
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