São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incidente aumenta tensão entre Washington e Teerã

EUA investigam se ataque que matou 5 soldados no Iraque foi conduzido por iranianos

Indagado se tem intenção de ordenar invasão do país, Bush diz que "ninguém está falando disso" e que meta é proteger tropas americanas

Morteza Nikoubazl - 0.jan.2007/Reuters
Iraniano diante de painel em árabe de festa muçulmana, em Teerã; sofisticação de ataque a base no Iraque levantou as suspeitas


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Pentágono investiga se a invasão de um posto de soldados norte-americanos em Karbala, no Iraque, que resultou na morte de cinco deles, foi conduzida por militares iranianos. O incidente é o recente a contribuir para a escalada da retórica entre EUA e Irã.
Segundo funcionários de duas agências do governo americano, a principal hipótese com a qual o Departamento de Defesa trabalha é a de a ação do dia 20 ter sido de "iranianos ou agentes treinados por iranianos". O grau de sofisticação do ataque é o principal fator a sustentar a tese de que não se tratavam de insurgentes locais.
De acordo com um funcionário do governo iraquiano, o grupo teria usado falsos cartões de identificação, fuzis M-14 e bombas de fumaça como os do Exército dos EUA. Não está descartada a tese de que se trata de uma retaliação: nos últimos dias, pelo menos três grupos de iranianos foram presos por soldados americanos no Iraque, sob a acusação de ajudarem a insurgência xiita.
A revelação acontece na esteira de uma série de ações e falas que indicam um aumento de tensão entre os dois países. Nos últimos dias, foi revelada uma nova política aprovada pelo presidente George W. Bush, batizada de "kill or capture" (matar ou capturar), que é um passo adiante em relação à política anterior, "catch and release" (prender e soltar).
No dia 10, o presidente havia dito que "destruiria redes" no Irã. Nos dias seguintes, uma segunda armada foi enviada ao Golfo Pérsico. É a primeira vez desde a invasão do Iraque, em 2003, que o país conta com tamanho poderio ali. Ontem, o "Los Angeles Times" revelou que a Força Aérea norte-americana também planeja intensificar sua presença na fronteira Irã-Iraque nos próximos dias.
Indagado ontem sobre se o endurecimento de sua retórica significava que o país atacaria o Irã, o presidente norte-americano negou. "Ninguém está falando disso", afirmou. "Dizer que defender nossas tropas no Iraque tem um objetivo maior simplesmente não é o caso."
Ontem ainda, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, disse ter certeza de que o Irã estava por trás de alguns ataques a tropas americanas, mas pediu que os dois países não usem o Iraque como campo de batalha para suas disputas.

Venda suspensa
Na terça-feira, o Pentágono anunciou que suspenderia a venda de peças do F-14, caça de fabricação americana utilizado hoje em dia pelo Irã. A decisão vem depois de denúncias de que iranianos estavam comprando reposição do próprio serviço de vendas de material usado do governo.
Também na terça, o general Raymond Odierno, o segundo na hierarquia dos EUA no Iraque, disse ter provas de que o Irã abastece as milícias: "Recuperamos armas cujos números de série nos permitem saber o caminho que percorreram e ele nos leva ao Irã".
Aos poucos, o Irã passa a ser o assunto dominante em Washington. Em sua audiência de confirmação no cargo no Senado, o novo chefe do comando central militar norte-americano no Oriente Médio disse que é a favor da chamada "diplomacia de esquadra". Para o almirante William Fallon, a atividade iraniana "não ajuda em nada" o Iraque e "o tempo está se esgotando" para a tomada de ação que iniba a violência.
Discurso semelhante apresentou John Negroponte. "Nós não acreditamos que o comportamento [do Irã], como apoiar extremistas xiitas no Iraque, deva seguir sem resposta", disse o recém-nomeado vice-secretário de Estado.
Os EUA acusam o Irã de armar os insurgentes xiitas no Iraque, o que Teerã nega, e se recusam a negociar o programa nuclear iraniano, bélico, segundo Washington, pacifista, segundo os aiatolás. Estudo divulgado ontem pelo Instituto Internacional para Estudos Estratégicos afirma que o Irã estaria a dois ou três anos de conseguir fabricar arma nuclear.


Texto Anterior: Mundo da tortilha
Próximo Texto: Kissinger e Albright fazem críticas a plano
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.