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HISTÓRIA
Em suas memórias, oficial pede desculpas pelo Holocausto, mas nega responsabilidade por atrocidades
Eichmann viu "dança da morte" nazista
PAUL HOLMES
da "Reuters", em Jerusalém
Adolf Eichmann reconheceu
que o Holocausto foi o maior crime da história da humanidade,
mas nunca aceitou sua parte de
culpa no genocídio de 6 milhões
de judeus.
Nas memórias escritas durante
seus últimos meses de prisão em
Israel, antes de sua execução por
enforcamento por ser culpado de
crimes contra o povo judeu, Eichmann pinta um quadro aterrorizante do que chama de "a pior e
mais violenta dança da morte de
todos os tempos".
O relato de 1.100 páginas foi tornado público por Israel ontem
para ser usado num processo em
Londres, movido pelo historiador
David Irving contra uma professora americana, que o acusou em
livro de negar o Holocausto.
As memórias não revelam, porém, nenhum vestígio de responsabilidade pessoal de Eichmann
nos crimes da Alemanha nazista
contra os judeus.
Em vez disso, o oficial nazista
descreve-se com uma alma atormentada que lutou com sua consciência, viu a face do mal e perdeu
para uma compulsão doentia de
realizar os desejos de Adolf Hitler.
"Minha posição foi a mesma
que a de milhões de pessoas que
tiveram de obedecer ordens. A
única diferença era que minha tarefa era bem mais difícil de ser
cumprida", escreveu.
De pequeno vendedor de eletrodomésticos, Eichmann ascendeu rápido dentro do Partido Nacional-Socialista e dirigiu a deportação de judeus de toda a Europa para campos de concentração, ocupando o posto de chefe
do Departamento de Assuntos Judeus, na sede da Gestapo (polícia
secreta nazista).
Seu relato tenta provar que ele
não ocupava uma posição que lhe
permitisse tomar decisões no que
concerne ao genocídio e diz que
ele não tinha nenhuma animosidade pessoal contra os judeus.
Por outro lado, o texto, tanto
autobiográfico quanto pseudofilosófico, traz informações de como o Holocausto foi executado.
Eichmann foi preso no final da
Segunda Guerra, mas conseguiu
fugir para a Argentina com a mulher e três filhos. O serviço secreto
israelense o sequestrou em maio
de 1960 em Buenos Aires. Ele foi
julgado em Jerusalém e enforcado
no dia 1º de junho de 1962.
"Tive de obedecer as leis da
guerra e minha bandeira. Estou
pronto", foram suas últimas palavras. As memórias de Eichmann
são, no fundo, um pedido de desculpas: "Pelo trabalho que deixo
para ser feito após minha morte,
só posso pedir desculpas e agradecer àqueles que o farão."
Tradução de Márcio Senne de Moraes
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