São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


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HISTÓRIA
Em suas memórias, oficial pede desculpas pelo Holocausto, mas nega responsabilidade por atrocidades
Eichmann viu "dança da morte" nazista

PAUL HOLMES
da "Reuters", em Jerusalém

Adolf Eichmann reconheceu que o Holocausto foi o maior crime da história da humanidade, mas nunca aceitou sua parte de culpa no genocídio de 6 milhões de judeus.
Nas memórias escritas durante seus últimos meses de prisão em Israel, antes de sua execução por enforcamento por ser culpado de crimes contra o povo judeu, Eichmann pinta um quadro aterrorizante do que chama de "a pior e mais violenta dança da morte de todos os tempos".
O relato de 1.100 páginas foi tornado público por Israel ontem para ser usado num processo em Londres, movido pelo historiador David Irving contra uma professora americana, que o acusou em livro de negar o Holocausto.
As memórias não revelam, porém, nenhum vestígio de responsabilidade pessoal de Eichmann nos crimes da Alemanha nazista contra os judeus.
Em vez disso, o oficial nazista descreve-se com uma alma atormentada que lutou com sua consciência, viu a face do mal e perdeu para uma compulsão doentia de realizar os desejos de Adolf Hitler.
"Minha posição foi a mesma que a de milhões de pessoas que tiveram de obedecer ordens. A única diferença era que minha tarefa era bem mais difícil de ser cumprida", escreveu.
De pequeno vendedor de eletrodomésticos, Eichmann ascendeu rápido dentro do Partido Nacional-Socialista e dirigiu a deportação de judeus de toda a Europa para campos de concentração, ocupando o posto de chefe do Departamento de Assuntos Judeus, na sede da Gestapo (polícia secreta nazista).
Seu relato tenta provar que ele não ocupava uma posição que lhe permitisse tomar decisões no que concerne ao genocídio e diz que ele não tinha nenhuma animosidade pessoal contra os judeus.
Por outro lado, o texto, tanto autobiográfico quanto pseudofilosófico, traz informações de como o Holocausto foi executado.
Eichmann foi preso no final da Segunda Guerra, mas conseguiu fugir para a Argentina com a mulher e três filhos. O serviço secreto israelense o sequestrou em maio de 1960 em Buenos Aires. Ele foi julgado em Jerusalém e enforcado no dia 1º de junho de 1962.
"Tive de obedecer as leis da guerra e minha bandeira. Estou pronto", foram suas últimas palavras. As memórias de Eichmann são, no fundo, um pedido de desculpas: "Pelo trabalho que deixo para ser feito após minha morte, só posso pedir desculpas e agradecer àqueles que o farão."


Tradução de Márcio Senne de Moraes


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