Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Paris vê "descompasso" americano
JOAQUÍN PRIETO
DO "EL PAÍS", EM PARIS
O ministro francês das Relações
Exteriores, Dominique de Villepin, lançou um apelo ao direito e à
moral que devem presidir as relações internacionais para impedir
que a ONU se veja sem outra opção senão "avalizar uma guerra
precipitada por meio de uma nova resolução, como a que acaba de
ser proposta pelo Reino Unido,
Estados Unidos e Espanha".
Em entrevista, De Villepin argumentou contra a legitimidade de
uma intervenção militar realizada
antes que as inspeções de armas
tenham rendido fruto.
Pergunta - Até que ponto o sr.
acha decisiva a destruição dos mísseis Al Samoud, prometida pelo
Iraque?
Dominique de Villepin - É uma
etapa importante, porque se situa
na lógica da aplicação correta da
resolução 1441. Os especialistas
precisam ter a oportunidade de
dizer, programa por programa
(nuclear, químico, bacteriológico
e balístico), o que é preciso fazer,
determinando os prazos.
A questão dos mísseis é exemplar: obtivemos informações através dos iraquianos e pudemos verificar essas informações. Agora
ingressamos na terceira fase, que
é a eliminação dos mísseis. A
França quer converter essas inspeções num instrumento que
possa ser utilizado realmente para
resolver pacificamente outras crises ligadas à proliferação de armas. Se nos precipitarmos e usarmos a força militar, a tentação de
recorrer à força imediatamente
será grande também em outras
crises. Ainda não estamos num
beco sem saída.
Pergunta - Mas e se Saddam se
negasse a destruir os mísseis?
De Villepin - Nosso objetivo é o
desarmamento pacífico do Iraque. Se isso não for conseguido,
então poderão ser estudadas todas as outras saídas possíveis, entre elas a da força. Mas a precipitação me parece inoportuna. Seria
paradoxal que uma resolução
abrisse as portas para a guerra
quando as inspeções estão dando
resultados. A legitimidade conferida pelo direito internacional é
fundamental. O calendário militar norte-americano está fora de
compasso com o calendário da
comunidade internacional.
Pergunta - O sr. vê alguma possibilidade para a via multilateral?
De Villepin - Existe na ONU uma
maioria clara a favor da via pacífica. O Conselho de Segurança deve
velar pelo respeito à resolução
1441 e continuar seus esforços para encontrar uma solução pacífica
para a crise. A questão é saber se a
ONU se aterá a essa resolução ou
se ela não tem outra opção senão
a de legitimar uma decisão precipitada de intervenção militar.
Não é justamente isso que pode
afetar a autoridade da ONU?
Pergunta - Há quem pense que a
posição da França também é inspirada por interesses econômicos.
De Villepin - Conheço esses argumentos. Vamos falar a sério: o
Iraque é apenas o 53º parceiro comercial da França.
Pergunta - A impressão que se
tem é que a França suavizou sua
postura em relação ao veto. Muitos
temem as tensões nas relações entre a França e os EUA.
De Villepin - A posição francesa
está muito clara. É uma questão
de responsabilidade. A França
quer conservar toda sua liberdade
de ação e opinião. Pode haver
nuanças, mas não existem divergências de fundo nas posições da
maioria. Trata-se da visão que temos sobre a organização do mundo: somos a favor de uma ordem mundial multipolar, fundamentada no direito e na moral e centrada no princípio da responsabilidade coletiva.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Oposição quer junta no Iraque pós-Saddam Próximo Texto: Frase Índice
|