São Paulo, sábado, 01 de março de 2008

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O DRAMA DO CATIVEIRO

INGRID BETANCOURT
Estou cansada de sofrer, de levar isso por dentro todos os dias, de dizer mentiras a mim mesma e de ver que cada dia é igual ao inferno do anterior. (...) Sinto que a vida dos meus filhos está em stand-by, esperando que eu saia, e seu sofrimento diário faz com que a morte me pareça uma opção doce (...). Não tenho vontade de nada e creio que isso é a única coisa que está bem: não ter vontade de nada

Cartas da ex-candidata presidencial franco-colombiana a seu marido. Ela foi seqüestrada pelas Farc em 2002 ao lado de Clara Rojas, que foi libertada em 10 de janeiro

LUIS ELADIO PÉREZ
Em nome de uma revolução fictícia, de idéias fossilizadas pela história, de políticas ortodoxas de tempos atrás que não mudam diante da realidade mundial, nos acorrentavam em árvores dia e noite. Dormimos na selva, às vezes em redes cobertas por mantas, outras vezes no chão, em cima de um triste pedaço de borracha negro (...). Eu devo a minha vida a Ingrid [Betancourt]. Quando tive dois comas diabéticos e um infarto, ela se dedicou com alma, vida e chapéu, como dizemos na Colômbia, a me ajudar. Ela lavava minha roupa, cuidava de mim quando eu não podia dar um só passo.

Imagine você qual é o meu compromisso com ela. (...) Se persiste na teimosa necessidade de insistir nos resgates militares, receberá, senhor presidente Uribe, 40 ou 50 cadáveres desses cidadãos com oito, nove ou dez anos de cativeiro


ex-refém liberado na última quarta

ORLANDO BELTRÁN
É terrível a situação dos militares com mais de dez anos de cativeiro. Primeiro, foram capturados no campo de batalha, defendendo o povo, a Constituição, a pátria. Representam o governo e foram abandonados. O povo colombiano não pode aceitar que essas pessoas morram na selva. É preciso exigir que o governo faça todos os esforços para um acordo humanitário

ex-refém liberado na última quarta

GLÓRIA POLANCO
Eles me tiraram do meu apartamento, em Huila, com meus dois filhos mais velhos. Queriam o meu marido, senador da República, que não estava na cidade. Era um seqüestro econômico. Foi quando a gente querida de Huila [departamento] me elegeu representante da Câmara sem que eu tivesse dado um "sim". Entendo que era uma homenagem, mas me custou muito caro, porque, depois de sete meses de cativeiro, me separaram dos meus filhos. Um dia, assassinaram o meu marido. O único que fiz foi gritar do mais profundo da minha alma: "mataram-no" (...). Chegaram uns guerrilheiros para me levar uma vela e um isqueiro, para chorar à luz de uma vela

ex-refém liberada na última quarta

JORGE GÉCHEM
[Quando fui seqüestrado] concordava com o critério de que os conflitos na Colômbia deveriam ser solucionados por meio do diálogo, de uma solução política (...). Hoje, seis anos mais tarde, continuo igualmente convencido: necessitamos de uma saída política ao conflito na Colômbia

ex-refém liberado na última quarta


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