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Israel ameaça Gaza com "desastre"
Vice-ministro usou palavra "shoah", que é sinônimo de Holocausto, mas porta-vozes minimizaram
Premiê Olmert sofre pressão
para lançar grande operação
contra o Hamas; a mídia em
Israel diz que preparativos
estão sendo desencadeados
DA REDAÇÃO
O vice-ministro israelense da
Defesa, Matan Vilnai, declarou
ontem à Rádio do Exército que
os foguetes lançados a partir de
Gaza por radicais palestinos
forçarão Israel a responder
com uma "shoah" (grande catástrofe, Holocausto), "porque
usaremos tudo o que temos à
disposição para nos defender".
A palavra hebraica "shoah"
raramente é usada em Israel
para designar fatos contemporâneos. Ela quase sempre se refere ao genocídio que vitimou 6
milhões de judeus da Europa,
durante a Segunda Guerra
Mundial, em territórios ocupados pela Alemanha nazista.
Incursões aéreas israelenses
já mataram 35 palestinos desde
quarta-feira em Gaza, território controlado desde junho pelo grupo radical islâmico Hamas. As operações foram desencadeadas em resposta ao
lançamento na direção de Israel de foguetes Qassan, de produção artesanal, Katyusha, de
fabricação iraniana, ou Grad,
derivado de um artefato russo.
O fato é que ameaçar os palestinos com uma "shoah" pareceu no mínimo despropositado. Consciente disso, um porta-voz de Vilnai apressou-se em
dizer que ele se referia a um
"desastre", sem nenhuma alusão a qualquer genocídio.
Pouco depois o porta-voz do
Ministério da Defesa, Arye Mekel, disse que o vice-ministro
usou a palavra "shoah" como sinônimo de catástrofe, sem fazer ameaça de Holocausto.
Mas o estrago político já estava feito. Tanto que Ismail Haniyeh, primeiro-ministro do Hamas, com jurisdição circunscrita a Gaza, declarou que "isso é
uma prova da agressão planejada por Israel contra o nosso povo". Afirmou ainda que os israelenses "querem que o mundo condene o que chamam de
Holocausto, mas agora lançam
[sobre nós] a mesma ameaça".
Segundo a Reuters, o primeiro-ministro Ehud Olmert tem
hesitado em lançar uma ofensiva de envergadura contra Gaza,
o que comprometeria as negociações de paz, já difíceis, com
os palestinos moderados da
Cisjordânia, liderados pelo presidente laico Mahmoud Abbas.
Cumplicidade do Hamas
Israel tem certeza de que os
foguetes lançados de Gaza,
mesmo a partir de bases não
controladas pelo Hamas, acabam sendo autorizados pelo
grupo islâmico, que não reconhece a Israel o direito à existência e promete, após uma hipotética expulsão dos judeus,
islamizar toda a Palestina.
Uma reação militar em larga
escala do premiê Olmert seria
apoiada por israelenses solidários com as populações de Sderot -onde um míssil matou na
quarta um israelense- ou de
Ashkelon, cidades na mira dos
foguetes palestinos.
O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, disse a um canal local de TV que uma resposta "era necessária".
O jornal israelense "Yedioth
Ahronoth" disse ontem que Barak já prepara uma grande
ofensiva, tendo confidencialmente alertado o governo americano. A secretária de Estado
Condoleezza Rice estará na semana que vem no Oriente Médio. Duas rádios israelenses, a
Israel e a do Exército, disseram
haver preparativos para uma
intervenção, mas que não seria
para as próximas horas.
Rice condenou a morte de civis em Gaza pelos israelenses,
sobretudo crianças. Mas não
pediu maior comedimento de
seu grande aliado na região.
O jornal francês "Le Monde"
cita relatório da organização de
direitos humanos B"Tselem, segundo o qual Israel já matou
desde o início do ano 132 palestinos em Gaza e 14 na Cisjordânia. Entre as vítimas, onze
eram menores de idade. Do lado israelenses há dois mortos.
Uma outra organização humanitária, a Oxfam Internacional, acusou Israel de ter destruído em parte uma clínica em
Gaza por ela financiada.
Manifestação em Gaza
Dois mísseis israelenses mataram ontem, separadamente,
uma garota de um ano, Malak
Kafarna, atingida perto de sua
casa, em Beit Hanoun, e um especialista em explosivos do Hamas, Eyad Ashram.
Ainda ontem, convocados
pelo Hamas, dezenas de milhares de palestinos saíram às ruas
na cidade de Gaza para protestar contra os bombardeios israelenses. Khalil Hayya, dirigente do grupo islâmico, afirmou em discurso que "nunca
reconheceremos Israel, que assassina nossos dirigentes e mata nossas crianças".
Com agências internacionais
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