São Paulo, sábado, 01 de março de 2008

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Israel ameaça Gaza com "desastre"

Vice-ministro usou palavra "shoah", que é sinônimo de Holocausto, mas porta-vozes minimizaram

Premiê Olmert sofre pressão para lançar grande operação contra o Hamas; a mídia em Israel diz que preparativos estão sendo desencadeados

DA REDAÇÃO

O vice-ministro israelense da Defesa, Matan Vilnai, declarou ontem à Rádio do Exército que os foguetes lançados a partir de Gaza por radicais palestinos forçarão Israel a responder com uma "shoah" (grande catástrofe, Holocausto), "porque usaremos tudo o que temos à disposição para nos defender".
A palavra hebraica "shoah" raramente é usada em Israel para designar fatos contemporâneos. Ela quase sempre se refere ao genocídio que vitimou 6 milhões de judeus da Europa, durante a Segunda Guerra Mundial, em territórios ocupados pela Alemanha nazista.
Incursões aéreas israelenses já mataram 35 palestinos desde quarta-feira em Gaza, território controlado desde junho pelo grupo radical islâmico Hamas. As operações foram desencadeadas em resposta ao lançamento na direção de Israel de foguetes Qassan, de produção artesanal, Katyusha, de fabricação iraniana, ou Grad, derivado de um artefato russo.
O fato é que ameaçar os palestinos com uma "shoah" pareceu no mínimo despropositado. Consciente disso, um porta-voz de Vilnai apressou-se em dizer que ele se referia a um "desastre", sem nenhuma alusão a qualquer genocídio.
Pouco depois o porta-voz do Ministério da Defesa, Arye Mekel, disse que o vice-ministro usou a palavra "shoah" como sinônimo de catástrofe, sem fazer ameaça de Holocausto.
Mas o estrago político já estava feito. Tanto que Ismail Haniyeh, primeiro-ministro do Hamas, com jurisdição circunscrita a Gaza, declarou que "isso é uma prova da agressão planejada por Israel contra o nosso povo". Afirmou ainda que os israelenses "querem que o mundo condene o que chamam de Holocausto, mas agora lançam [sobre nós] a mesma ameaça".
Segundo a Reuters, o primeiro-ministro Ehud Olmert tem hesitado em lançar uma ofensiva de envergadura contra Gaza, o que comprometeria as negociações de paz, já difíceis, com os palestinos moderados da Cisjordânia, liderados pelo presidente laico Mahmoud Abbas.

Cumplicidade do Hamas
Israel tem certeza de que os foguetes lançados de Gaza, mesmo a partir de bases não controladas pelo Hamas, acabam sendo autorizados pelo grupo islâmico, que não reconhece a Israel o direito à existência e promete, após uma hipotética expulsão dos judeus, islamizar toda a Palestina.
Uma reação militar em larga escala do premiê Olmert seria apoiada por israelenses solidários com as populações de Sderot -onde um míssil matou na quarta um israelense- ou de Ashkelon, cidades na mira dos foguetes palestinos.
O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, disse a um canal local de TV que uma resposta "era necessária".
O jornal israelense "Yedioth Ahronoth" disse ontem que Barak já prepara uma grande ofensiva, tendo confidencialmente alertado o governo americano. A secretária de Estado Condoleezza Rice estará na semana que vem no Oriente Médio. Duas rádios israelenses, a Israel e a do Exército, disseram haver preparativos para uma intervenção, mas que não seria para as próximas horas.
Rice condenou a morte de civis em Gaza pelos israelenses, sobretudo crianças. Mas não pediu maior comedimento de seu grande aliado na região.
O jornal francês "Le Monde" cita relatório da organização de direitos humanos B"Tselem, segundo o qual Israel já matou desde o início do ano 132 palestinos em Gaza e 14 na Cisjordânia. Entre as vítimas, onze eram menores de idade. Do lado israelenses há dois mortos.
Uma outra organização humanitária, a Oxfam Internacional, acusou Israel de ter destruído em parte uma clínica em Gaza por ela financiada.

Manifestação em Gaza
Dois mísseis israelenses mataram ontem, separadamente, uma garota de um ano, Malak Kafarna, atingida perto de sua casa, em Beit Hanoun, e um especialista em explosivos do Hamas, Eyad Ashram.
Ainda ontem, convocados pelo Hamas, dezenas de milhares de palestinos saíram às ruas na cidade de Gaza para protestar contra os bombardeios israelenses. Khalil Hayya, dirigente do grupo islâmico, afirmou em discurso que "nunca reconheceremos Israel, que assassina nossos dirigentes e mata nossas crianças".


Com agências internacionais


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