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Novo Orçamento americano enterra a era conservadora
Ideia central é reverter rápido crescimento da desigualdade iniciado nos anos 80 com Reagan
Com plano, Obama quer reescrever código tributário e tentar sanar parte das causas do desaquecimento da renda da classe média
DAVID LEONHARDT
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
O Orçamento que Barack
Obama propôs na última quinta aos EUA não é nada menos
que uma tentativa de pôr fim a
três décadas de política econômica dominada pelas ideias de
Ronald Reagan e seguidores.
A proposta de Obama -uma
mudança radical em relação à
história recente- prevê forte
elevação dos impostos sobre os
ricos, para além do patamar para o qual Bill Clinton os elevara.
E reduz os impostos sobre o
resto da população para menos
do que estavam sob Clinton e
George W. Bush. O Orçamento
ainda deita as bases para mudanças amplas na saúde e na
educação, entre outras áreas.
Mais que qualquer outra coisa, a ideia é reverter o crescimento rápido da desigualdade
econômica verificado nos últimos 30 anos. Isso deve ser feito,
primeiro ao reescrever o código
tributário e, no longo prazo, ao
tentar resolver algumas das
causas do desaquecimento da
renda da classe média, como os
altos custos médicos e a queda
nos ganhos educacionais.
Depois de Obama ter passado
boa parte de suas primeiras
cinco semanas na Presidência
tratando da crise financeira,
seu Orçamento traz de volta
para a mesa as prioridades nas
quais ele baseou sua campanha.
Seus esforços vão aumentar
um déficit já inchado pelas políticas de Bush e a recessão,
criando o maior déficit desde a
Segunda Guerra. Eliminá-lo vai
exigir escolhas difíceis -como
cortes extras de gastos e aumentos nos impostos- que
Obama evitou tratar por ora.
Apesar disso, ele fez escolhas.
Buscou eliminar subsídios corporativos que os economistas
criticam há muito tempo, pagos
a seguradoras de saúde, bancos
e empresas agrícolas. Propôs
taxar a emissão de carbono, para desacelerar o aquecimento
global, e depois refinanciar a
maior parte da receita obtida
com esse programa, por meio
de cortes amplos nos impostos.
Pediu cerca de US$ 100 bilhões por ano em aumentos dos
tributos sobre os ricos -em sua
maioria adiados até 2011, quando se presume que a recessão
terá terminado- e US$ 50 bilhões por ano em cortes líquidos para os não-ricos.
Há ainda muitas perguntas
em aberto sobre a proposta, a
começar pelas chances de o
Congresso aprová-las. Os planos para saúde e educação também esbarram em resistência,
e, se a economia continuar fraca até 2010, os republicanos no
Congresso vão tentar atribuir a
culpa por isso ao aumento dos
impostos para os ricos.
Aconteça o que acontecer,
porém, faz muito tempo que
nenhum presidente tentava
usar seu Orçamento para moldar o governo e a economia tanto quanto Obama tentou. Nesse
ponto, ele e Ronald Reagan têm
algo em comum.
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