São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Novo Orçamento americano enterra a era conservadora

Ideia central é reverter rápido crescimento da desigualdade iniciado nos anos 80 com Reagan

Com plano, Obama quer reescrever código tributário e tentar sanar parte das causas do desaquecimento da renda da classe média

DAVID LEONHARDT
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

O Orçamento que Barack Obama propôs na última quinta aos EUA não é nada menos que uma tentativa de pôr fim a três décadas de política econômica dominada pelas ideias de Ronald Reagan e seguidores.
A proposta de Obama -uma mudança radical em relação à história recente- prevê forte elevação dos impostos sobre os ricos, para além do patamar para o qual Bill Clinton os elevara. E reduz os impostos sobre o resto da população para menos do que estavam sob Clinton e George W. Bush. O Orçamento ainda deita as bases para mudanças amplas na saúde e na educação, entre outras áreas.
Mais que qualquer outra coisa, a ideia é reverter o crescimento rápido da desigualdade econômica verificado nos últimos 30 anos. Isso deve ser feito, primeiro ao reescrever o código tributário e, no longo prazo, ao tentar resolver algumas das causas do desaquecimento da renda da classe média, como os altos custos médicos e a queda nos ganhos educacionais.
Depois de Obama ter passado boa parte de suas primeiras cinco semanas na Presidência tratando da crise financeira, seu Orçamento traz de volta para a mesa as prioridades nas quais ele baseou sua campanha.
Seus esforços vão aumentar um déficit já inchado pelas políticas de Bush e a recessão, criando o maior déficit desde a Segunda Guerra. Eliminá-lo vai exigir escolhas difíceis -como cortes extras de gastos e aumentos nos impostos- que Obama evitou tratar por ora.
Apesar disso, ele fez escolhas. Buscou eliminar subsídios corporativos que os economistas criticam há muito tempo, pagos a seguradoras de saúde, bancos e empresas agrícolas. Propôs taxar a emissão de carbono, para desacelerar o aquecimento global, e depois refinanciar a maior parte da receita obtida com esse programa, por meio de cortes amplos nos impostos.
Pediu cerca de US$ 100 bilhões por ano em aumentos dos tributos sobre os ricos -em sua maioria adiados até 2011, quando se presume que a recessão terá terminado- e US$ 50 bilhões por ano em cortes líquidos para os não-ricos.
Há ainda muitas perguntas em aberto sobre a proposta, a começar pelas chances de o Congresso aprová-las. Os planos para saúde e educação também esbarram em resistência, e, se a economia continuar fraca até 2010, os republicanos no Congresso vão tentar atribuir a culpa por isso ao aumento dos impostos para os ricos.
Aconteça o que acontecer, porém, faz muito tempo que nenhum presidente tentava usar seu Orçamento para moldar o governo e a economia tanto quanto Obama tentou. Nesse ponto, ele e Ronald Reagan têm algo em comum.


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