São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Valparaíso se apaga; Concepción enfrenta saques

LEONARDO WEN
EM VALPARAÍSO E CONCEPCIÓN

Por todo o Chile, as cenas de tensão durante e após o tremor se repetiram, mas com efeitos diferentes -alguns dos mais graves em Concepción, 500 km ao sul de Santiago, que enfrentou ontem um toque de recolher devido aos saques.
Às 3h44 da madrugada de anteontem, a reportagem da Folha sentiu o chão do bar/restaurante de Valparaíso (a 120 km de Santiago) começando a tremer, dando a impressão inicial de que em um determinado momento todas as pessoas que estavam no local haviam começado a dançar a um só tempo.
Em alguns poucos segundos, a natureza do ocorrido começou a ficar clara. Foi quando todos os presentes, em desespero, tomaram o rumo da rua, já repleta dos turistas e nativos que haviam tido o mesmo impulso e saído às pressas de estabelecimentos contíguos.
A cidade se apagou. E todos os bares que fazem do local um dos mais frequentados pontos de atividade noturna da turística cidade litorânea foram fechados. Aglomerados, atônitos e em meio a correria desenfreada, jovens e adolescentes na maioria disputavam táxis para retornar a hotéis e residências.
Junto com a luz, caiu a comunicação, agravando a sensação de desamparo. Em meio à confusão, pessoas choravam, e quem parecia melhor entender a situação eram os nativos, menos desacostumados a abalos.
A pé, a reportagem da Folha retornou ao hotel, localizado nas proximidades, por ruas escuras e vazias. Apenas pela manhã foi possível ter compreensão de que a cidade e o país haviam sofrido um terremoto.
Apesar dos momentos de desespero presenciados, as marcas da destruição em Valparaíso eram poucas, resumindo-se a algumas fachadas destruídas.
Até o fechamento da estação rodoviária, pessoas disputavam as últimas passagens para Santiago. No caminho, percorrido em cerca de uma hora e meia -tempo usual para o trajeto-, poucos sinais do tremor, e nenhum desvio na estrada.
A viagem de Santiago a Concepción, que durou oito horas, teve cenário diferente. Na estrada, mais de dez desvios causados por desníveis e quedas de pontes atrasaram a viagem.
A comunicação era escassa, e a cidade estava sem luz ontem à noite -todos os semáforos estavam desligados e não havia internet disponível. À tarde, as pessoas saqueavam abertamente postos de gasolina, levando combustível para casa em garrafas pet. Também quebravam cadeados em lojas. A polícia parecia não se importar. Mas às 21h, começou o toque de recolher, garantido por mais de 1.300 militares que se espalharam por ruas desertas.


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