São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Apesar da admitir falhas, secretária americana afirma que decisão de derrubar Saddam foi correta

EUA cometeram "milhares" de erros, diz Rice

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Sem dizer quais, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, admitiu ontem que seu país cometeu "milhares" de erros táticos na invasão do Iraque, mas que ainda assim a decisão de remover o ditador Saddam Hussein do poder foi uma estratégia acertada.
"Eu sei que cometemos erros táticos, milhares deles. Estou certa disso. Mas acredito fortemente que foi a decisão estratégica correta, pois Saddam era uma ameaça à comunidade internacional havia muito tempo", afirmou Rice durante uma entrevista coletiva em Blackburn, Reino Unido, no primeiro dos dois dias de uma visita oficial ao interior do país.
"Isso poderia ter sido dessa maneira, ou aquilo poderia ter sido feito dessa, mas, quando você olhar para a história, o que vai ser julgado é se você tomou as decisões estratégicas corretas."
A secretária de Estado declarou que, enquanto a ameaça do terrorismo permanecer, não há previsão para retirar as tropas americanas do país. "Seria um erro para qualquer um deixar o Iraque à mercê de Zarqawis [o terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi, líder da Al Qaeda no país] ou dos ex-membros do Baath [extinto partido de Saddam], que realmente querem pôr a perder o processo de paz."
A programação de Rice foi marcada por protestos de ativistas antiguerra. Num país cujo governo foi o maior aliado americano na invasão do Iraque, mas que é famoso por suas organizações de direitos humanos, ela defendeu o compromisso dos EUA com as liberdades civis, a Justiça e a lei.
No discurso antes da entrevista coletiva, centrado na política externa dos EUA, afirmou que os americanos não desejam ser os "carcereiros do mundo" e que interessa a Washington que todos os terroristas que captura tenham julgamentos adequados.
Alguns manifestantes vestiam macacões laranjas como os dos prisioneiros de Guantánamo -o campo de detenção instalado em uma base militar americana em Cuba, onde os EUA mantêm os prisioneiros da guerra ao terror sem indiciamento e acesso à Justiça, e onde, segundo a ONU e entidades de direitos humanos, são sistemáticos abusos e violações.
Rice, que foi acompanhada pelo ministro das Relações Exteriores britânico, Jack Straw, disse que encarava normalmente as manifestações antiguerra. "As pessoas têm o direito de protestar, é disso que é feita a democracia. Não tenho problema com as pessoas exercitando seus direitos democráticos. Fico igualmente -se não mais- impressionada com as calorosas boas-vindas."

Civis mortos
No Iraque, perduram o caos e a violência. Um morteiro atingiu ontem uma rua no bairro de Gaylani, nordeste de Bagdá, matando três civis e ferindo outros três, segundo a polícia. Também ontem, soldados da coalizão acharam corpos de seis homens, entre 25 e 30 anos, baleados e algemados.
No bairro de Doura, sul da capital, três carros-bombas explodiram num mercado, ferindo gravemente ao menos seis pessoas.
Em Fallujah, oeste, um policial foi morto por franco-atiradores.
Anteontem, pelo menos 27 pessoas foram mortas em ataques, inclusive uma garota de 4 anos. Os EUA sofreram duas baixas.


com agências internacionais

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