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Tribunal vai decidir se fecha partido que governa Turquia
AK é acusado por promotores públicos de tentar impor lei islâmica a país laico
Presidente e premiê podem ter seus direitos políticos cassados; julgamento, que deve ir até fim do ano, torna país politicamente instável
VINCENT BOLAND
DO "FINANCIAL TIMES", EM ANCARA
A Turquia enfrentará meses
de incerteza política e econômica após a decisão de ontem
do mais elevado tribunal do
país de levar a julgamento um
controverso caso que poderia
resultar no fechamento do partido governista e em longas
sentenças de cassação para líderes políticos do país.
O partido Justiça e Desenvolvimento (AK), cujas raízes estão no islamismo político, foi
acusado por promotores públicos de tentar impor a lei islâmica (sharia) à Turquia, um país
laico, em um caso que chocou e
dividiu a nação e abalou os
mercados financeiros.
O processo também acusa o
primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, o presidente Abdullah Gül e outros dos mais
importantes líderes do AK de
"atividades antilaicas". A elite
laica da Turquia -que inclui o
comando das Forças Armadas e
do Judiciário e parte da oposição política- há muito vem
acusando o partido governista
de ter uma "agenda oculta", cujo objetivo seria fazer da Turquia um Estado islâmico, acusação que o partido rejeita.
Embora a decisão do tribunal
fosse esperada, analistas alertaram que a ameaça de fechar o
AK, que obteve vitória eleitoral
esmagadora há oito meses, poderia causar meses de impasse
e uma longa disputa judicial,
em um momento no qual a
Turquia tem de enfrentar decisões críticas sobre a União Européia e a reforma econômica.
"Uma coisa é clara -a incerteza política prevalecerá pelo
restante do ano", disse Ozur Altug, economista da Raymond
James Securities, em Istambul.
As preocupações econômicas
se agravaram ontem quando
indicadores mostraram forte
desaceleração no crescimento
econômico em 2007. O Produto Interno Bruto cresceu 4,5%
no ano, ante 6,9% em 2006.
As ações negociadas na bolsa
de Istambul caíram ontem quase 3%, enquanto a lira turca
continuou em queda diante do
euro e do dólar.
Último trimestre
Os 11 juízes da Corte Constitucional votaram por unanimidade em favor de acolher o caso, o que significa que eles acreditam que exista necessidade
de que o AK responda às acusações que lhe foram feitas. O
partido tem um mês para preparar sua defesa, mas observadores acreditam que um veredicto final não sairia antes do
último trimestre de 2008. A
Corte Constitucional ordenou
o fechamento de 26 partidos
políticos nos últimos 50 anos, o
que indica que os precedentes
são desfavoráveis ao AK.
O motivo imediato do caso
foi a suspensão, em fevereiro,
de uma proibição ao uso de lenços de cabeça pelas muçulmanas praticantes nas universidades do país. Os oponentes do
AK consideram que isso seja
um exemplo da atuação do partido, que exploraria sua imensa
vantagem em número de legisladores para aprovar leis cujo
objetivo é satisfazer exclusivamente a base eleitoral formada
por pessoas conservadoras em
termos sociais.
Mas os defensores do partido
rejeitam a alegação. Eles afirmam que recorrer ao sistema
judicial para cercear as ações
do AK é injusto e antidemocrático. Suat Kiniklioglu, parlamentar do partido, disse que
"esse caso está sendo usado pelas elites como uma última
chance de subverter a transformação deste país; é um dia triste para a democracia turca".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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