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Obama enfrenta queda do poder dos EUA
Em sua primeira viagem ao exterior, presidente insiste em "liderar", mas capacidade é posta em dúvida
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O Barack Hussein Obama
que desembarcou ontem à noite em Londres para sua primeira viagem fora da América do
Norte são dois: um "superstar"
para o jornal conservador francês "Le Figaro" ou o líder de um
tempo que marca "o fim do poder americano", para a revista
britânica "New Statesman",
talvez a última publicação de
esquerda que ainda mantém
prestígio no planeta.
O Obama superstar está em
Londres para participar da cúpula do G20, as maiores economias do planeta, na qual pretende "ouvir mas também liderar", avisou seu chefe de imprensa, Robert Gibbs, antes da
partida. Resposta ontem do jornal britânico "The Guardian":
eles estão pronto para liderar,
mas "o resto do mundo deseja
segui-los?".
A dúvida do jornal é respondida por Martin Jacques, que
editou "Marxismo Hoje" até
que a publicação fechou em
1991 e hoje é pesquisador da
London School of Economics,
no artigo para a "New Statesman": "A crise global que começou no verão de 2007 (...) sinaliza o declínio do Ocidente e o
fim do poder dos EUA como
nós o conhecemos desde 1945",
o ano em que terminou a Segunda Guerra e os EUA ascenderam a superpotência.
Não se imagine que é um velho marxista saboreando a "crise final do capitalismo". Opinião parecida já foi manifestada por Roger Altman, ex-vice-secretário do Tesouro americano, hoje executivo-chefe de
uma firma de investimentos:
"O "crash" financeiro e econômico de 2008 (...) é um grande
retrocesso geopolítico para os
EUA e para a Europa. A médio
prazo, os governos europeus e
Washington não terão nem os
recursos nem a credibilidade
econômica para desempenhar
o papel em assuntos globais
que, de outra forma, desempenhariam".
O problema para teses como
essas é a de que não está à vista
nenhum substituto para os
EUA, como o admite mesmo
Martin Jacques: "O sucessor
óbvio é a China, mas a China
ainda não está em posição de
assumir tal papel", escreve.
Os números são contundentes a esse respeito: a China é o
mais pobre dos países do G20,
em matéria de renda per capita
(US$ 3.577, menos da metade
dos US$ 8.169 do Brasil).
Rússia, China, Índia
Em parte por isso, em parte
porque sua eleição o transformou realmente em "pop star",
todos os candidatos supostos
ou reais a substituir ou a competir com os EUA pela liderança querem falar com Obama
aproveitando o G20.
A começar por Dmitri Medvedev, o presidente da Rússia
que, enquanto foi o principal
componente da URSS, realmente disputou a liderança.
Em artigo ontem para o jornal
"Washington Post", Medvedev
diz que "nem a Rússia nem os
EUA podem tolerar o afastamento ou a indiferença em nossas relações" e insistiu em que é
necessário "pôr fim à crise de
confiança" [que marcou o relacionamento nos anos Bush].
Os dois países até já têm um
ponto de encontro que interessa a ambos, chamado Afeganistão. Mais: até o Irã, o maior inimigo público dos EUA, aceitou
ontem esse ponto de encontro.
É claro que não significa a
paz entre o Irã e o "Grande Satã", mas é um passo que responde de alguma forma ao ceticismo do "Guardian" sobre o
seguimento que possa ter a liderança de Obama.
O presidente americano
também falará hoje com o presidente da China, Hu Jintao, e
amanhã com o premiê da Índia,
Manmohan Singh - conversará com três dos quatro BRICs,
exceção feita ao Brasil, com cujo presidente já se reuniu em
Washington, há três semanas.
Os BRICs são as potências
mundiais que se consolidarão
até 2050, segundo a firma de
investimentos que inventou a
sigla. Seriam os principais responsáveis pelo que Martin Jacques chama de "virada na balança global de poder econômico dos países ricos para o mundo em desenvolvimento".
Obama, pela palavra de seu
porta-voz Gibbs, não se rende:
vai ouvi-los, sim, mas quer também liderar. Um exercício que
começa hoje e não se sabe como
e quando terminará.
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