São Paulo, quarta-feira, 01 de abril de 2009

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Senadores americanos lançam projeto pró-Cuba

No Brasil, diplomata não descarta apoio de Obama à medida

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo bipartidário de senadores dos EUA, apoiado por entidades empresariais e ativistas de direitos humanos, apresentou ontem no Congresso um projeto para liberar viagens de qualquer cidadão americano a Cuba -uma proibição com quase 40 anos de vida-, em mais um movimento da crescente pressão por mudança na política de Washington em relação a Havana.
O fim total das restrições de viagens a Cuba vai além das promessas de campanha do presidente Barack Obama, que defendeu liberar viagens de cidadãos cubano-americanos à ilha. No entanto, o chefe da diplomacia americana para as Américas, Thomas Shannon, não descartou ontem um apoio do governo à medida.
Em conversa com jornalistas em São Paulo, antes de participar de um evento do Conselho das Américas, Shannon disse que não conhecia o projeto do Senado, mas afirmou que a liberação total das viagens a Cuba "é um passo que será avaliado" no âmbito da revisão da política americana para a ilha.
"Vamos agir passo a passo. Esse passo será avaliado. Mas agora o governo Obama está focado no primeiro passo", disse, em referência ao fim das restrições tanto de viagens de cubano-americanos como do envio de remessas a Cuba, outra promessa de Obama.
O grupo que apresentou o projeto pró-ilha no Senado inclui o influente senador Richard Lugar, o mais graduado republicano na Comissão de Relações Exteriores da Casa, e alega ter os votos para passar a liberação também na Câmara. No começo do mês, vencendo resistência de anticastristas, o Congresso afrouxou as restrições sobre a frequência de viagens à ilha e o tempo de estadia.
Shannon admitiu ontem que Cuba é um tema importante para toda a região e deve aparecer na Cúpula das Américas, entre os dias 17 e 19 deste mês em Trinidad e Tobago. Evitou dizer, porém, se Obama fará algum aceno ao regime Raúl Castro no evento, o primeiro compromisso oficial dele na região.
"Temos observado com interesse a maneira como os países latino-americanos estão buscando incorporar Cuba, como no Grupo do Rio [no qual a ilha entrou em dezembro]. Entendemos o propósito disso."
O secretário de Estado assistente para o Hemisfério Ocidental disse ainda que Obama defenderá na cúpula aporte financeiro a bancos multilaterais da região como meio de ajudar os países centro-americanos, dependentes da economia americana e sem recursos, a custear medidas anticrise.

Drogas e posto no Brasil
Shannon disse que o governo Obama defende uma abordagem mais ampla para a luta antidrogas na região, com combate integrado ao crime organizado. Citou que essa recomendação aparece no relatório da Comissão Drogas e Democracia, da qual participam ex-presidentes latino-americanos, entre eles Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
"É um relatório interessante, do nosso ponto de vista", disse. No documento, a comissão diz que a "guerra às drogas" na região, custeada em grande parte pelos EUA, falhou.
Cotado para ser o próximo embaixador americano no Brasil, Shannon mostrou-se simpático à ideia. "É uma decisão do presidente. [...] Mas obrigado pela pergunta", riu.


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