São Paulo, Quinta-feira, 01 de Abril de 1999
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Governo iugoslavo esconde número de mortos

do enviado especial a Belgrado

O governo iugoslavo se recusa a dar informações sobre o número de mortos em consequência dos bombardeios da Otan. A Folha tentou obter dados, especialmente sobre civis, ainda que extra-oficiais.
A TV estatal sérvia divulgou apenas que militares morreram nos ataques de ontem à periferia de Belgrado.
Essa informação foi contestada pela rádio B-92, uma das poucas independentes do governo, que relatou a morte de pelo menos oito pessoas, entre civis e soldados, e o ferimento de 22 outras.
O governo julga que esse dado é confidencial. O vice-premiê Vuk Draskovic já afirmou que o país não vai revelar o número de mortos e feridos.
A precisão dos ataques da Otan leva a crer num pequeno número de baixas até agora. No entanto, a Rússia vem divulgando números altos. Disse haver mais de mil mortos até agora. Pode não estar correto, mas o irmão do presidente iugoslavo é embaixador em Moscou.
A dificuldade para obter esse tipo de informação começa no centro de imprensa do Exército. Um assessor, com ironia, dá o endereço do centro internacional de imprensa. Detalhe: ele foi fechado depois que o regime de Slobodan Milosevic começou a hostilizar jornalistas, especialmente os que vêm dos países da Otan.
Depois, dá "uma dica": o Clube dos Escritores. Lá, todos os dias, intelectuais e artistas protestam contra a Otan. Boa parte deles não tem simpatia por Milosevic, mas está solidária ao presidente agora.
Um jornalista, que pediu à Folha para não ter seu nome citado, confirma que há censura e controle do governo iugoslavo sobre os meios de comunicação.
Até sobre os veículos independentes, aqueles que não pertencem ao governo. No entanto, afirma: "A censura não precisa ser direta. Agora, que o país está sendo agredido, há uma união em torno do presidente. Todos os jornais e TVs são contra a Otan".
Mais bem informado, ele sabe que os sérvios massacram civis de origem albanesa em Kosovo, mas argumenta que o ELK (Exército de Libertação de Kosovo) e "mafiosos albaneses" agridem a minoria sérvia, que estaria com medo e sofrendo. (KA).


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