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Governo iugoslavo esconde número de mortos
do enviado especial a Belgrado
O governo iugoslavo se recusa a
dar informações sobre o número
de mortos em consequência dos
bombardeios da Otan. A Folha
tentou obter dados, especialmente
sobre civis, ainda que extra-oficiais.
A TV estatal sérvia divulgou apenas que militares morreram nos
ataques de ontem à periferia de
Belgrado.
Essa informação foi contestada
pela rádio B-92, uma das poucas
independentes do governo, que relatou a morte de pelo menos oito
pessoas, entre civis e soldados, e o
ferimento de 22 outras.
O governo julga que esse dado é
confidencial. O vice-premiê Vuk
Draskovic já afirmou que o país
não vai revelar o número de mortos e feridos.
A precisão dos ataques da Otan
leva a crer num pequeno número
de baixas até agora. No entanto, a
Rússia vem divulgando números
altos. Disse haver mais de mil mortos até agora. Pode não estar correto, mas o irmão do presidente iugoslavo é embaixador em Moscou.
A dificuldade para obter esse tipo de informação começa no centro de imprensa do Exército. Um
assessor, com ironia, dá o endereço do centro internacional de imprensa. Detalhe: ele foi fechado depois que o regime de Slobodan Milosevic começou a hostilizar jornalistas, especialmente os que vêm
dos países da Otan.
Depois, dá "uma dica": o Clube
dos Escritores. Lá, todos os dias,
intelectuais e artistas protestam
contra a Otan. Boa parte deles não
tem simpatia por Milosevic, mas
está solidária ao presidente agora.
Um jornalista, que pediu à Folha
para não ter seu nome citado, confirma que há censura e controle do
governo iugoslavo sobre os meios
de comunicação.
Até sobre os veículos independentes, aqueles que não pertencem
ao governo. No entanto, afirma: "A
censura não precisa ser direta.
Agora, que o país está sendo agredido, há uma união em torno do
presidente. Todos os jornais e TVs
são contra a Otan".
Mais bem informado, ele sabe
que os sérvios massacram civis de
origem albanesa em Kosovo, mas
argumenta que o ELK (Exército de
Libertação de Kosovo) e "mafiosos
albaneses" agridem a minoria sérvia, que estaria com medo e sofrendo.
(KA).
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