São Paulo, quinta, 1 de maio de 1997.

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ZAIRE
Reunião com Kabila será amanhã
Sob pressão, Mobutu vai a encontro

das agências internacionais

As lideranças em luta no Zaire marcaram data para o seu primeiro encontro: será amanhã, a bordo de um navio sul-africano que vai zarpar do vizinho Congo.
O diplomata americano Bill Richardson dissipou as dúvidas sobre a participação do presidente Mobutu Sese Seko: "O encontro vai acontecer na sexta-feira, em águas internacionais", disse.
A reunião é mediada pela África do Sul e representa uma vitória política para a liderança continental do presidente Nelson Mandela.
O encontro foi anunciado na terça-feira, mas horas depois surgiram rumores de que Mobutu se recusaria a embarcar.
Segundo Richardson, que é embaixador dos Estados Unidos na ONU e foi enviado à África especialmente para tentar encerrar a guerra civil, o barco vai sair de Libreville, a capital do Congo. Só o rio Congo separa Libreville de Kinshasa, a capital do Zaire.
Um dos filhos de Mobutu, Nzanga, disse que o pai cogitava não ir porque achava que o barco não apresenta segurança para a reunião. O argumento ofendeu as autoridades sul-africanas, que já deslocaram o quebra-gelo SAS Outeniqua, um dos orgulhos da pequena Marinha do país, para a região.
A cúpula deve ser mediada por Mandela. Kabila vinha dizendo que só se reuniria com seu inimigo para receber dele o governo do Zaire -não se sabe se a transferência de poder acontece amanhã.
O grupo de Kabila já domina a metade leste do Zaire e parece ter pouca dificuldade para chegar a Kinshasa (capital) se a guerra civil durar mais algumas semanas.
Os rebeldes oferecem a Mobutu uma espécie de "asilo interno" em sua região natal; a África do Sul já anunciou que se dispõe a receber o presidente, que está no poder há quase 32 anos.
Refugiados
Mobutu já perdeu todo o prestígio internacional de que dispunha, mas Kabila também enfrenta desconfianças, principalmente devido à crise humanitária que envolve refugiados ruandeses na área sob seu controle.
Esse refugiados são de etnia hutu e foram para o Zaire quando seu grupo perdeu a guerra civil para os tutsis em Ruanda. Agora, esses mesmos refugiados são perseguidos pelos tutsis do Zaire, que formam a maioria do grupo de Kabila, um veterano líder guerrilheiro esquerdista.
Ontem a ONU levou os primeiros 236 refugiados -crianças desacompanhadas, na maioria- de volta para Ruanda. Dois outros vôos não puderam decolar por falta de combustível.
Kabila deu dois meses para a ONU retirar os hutus de sua região; a ONU acusa os guerrilheiros de praticar massacres e desalojá-los de seus campos.
Kabila aproveitou uma reunião com o Richardson para tentar melhorar a sua imagem na crise humanitária: disse que pretende castigar qualquer um que mate refugiados hutus.

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