São Paulo, sexta, 1 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANIVERSÁRIO
Em um ano de governo, premiê obtém vitórias domésticas e aumenta prestígio internacional do Reino Unido
Blair ainda procura a sua "Terceira Via'

ISABEL VERSIANI
de Londres

O governo trabalhista do primeiro-ministro britânico Tony Blair completa hoje um ano no poder com uma popularidade ainda maior do que quando foi eleito, pondo fim a 18 anos de conservadorismo no Reino Unido.
Quando o novo governo assumiu, em maio do ano passado, havia uma grande expectativa no país e no mundo sobre como se traduziria, na prática, a tão anunciada "Terceira Via", definida por Blair como um caminho intermediário entre o liberalismo e o socialismo.
Para muitos, o novo trabalhismo ainda não deixou claro o que é esse novo sistema, mas é indiscutível que o governo Blair está mexendo intensamente no Estado britânico, introduzindo reformas importantes e aumentando os investimentos nas áreas sociais.
Entre as mudanças mais ousadas estão as reformas políticas e constitucionais. Referendos promovidos no País de Gales e na Escócia aprovaram, no ano passado, a criação de Parlamentos próprios para as duas regiões. Blair também está negociando mudanças na Câmara dos Lordes.
No próximo dia 7, será promovido um outro referendo para definir se será criada uma prefeitura em Londres. Se a idéia for aprovada, o governo poderá propor a mesma mudança em outras cidades do país, dando continuidade a um processo de descentralização administrativa.
A educação foi eleita a prioridade de Blair e também nessa área foram feitas reformas. O governo criou uma nova taxa, cobrada sobre as empresas privatizadas, e repassou o dinheiro levantado para as escolas.
Também passou a usar uma parcela dos recursos arrecadados na Loteria Nacional para investir no treinamento de professores.
Politicamente, uma das maiores vitórias do governo Blair foi o acordo para a paz na Irlanda do Norte, acertado na Sexta-Feira Santa. O acerto poderá pôr fim a mais de 30 anos de violência na região e, internacionalmente, deu grande projeção a Blair, visto como o responsável pelo consenso entre católicos e protestantes.
Esse prestígio pôde ser medido quando, uma semana depois da Páscoa, em visita ao Oriente Médio, Blair conseguiu marcar uma reunião entre o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu e o líder palestino Iasser Arafat, em Londres.
O primeiro-ministro deu provas de suas ambições no cenário político internacional quando, há um mês, propôs a realização de uma grande reunião, em Londres, dos líderes de centro-esquerda. O objetivo do encontro é discutir a "Terceira Via".
No campo econômico, o governo trabalhista tem adotado uma linha que pouco o diferencia dos conservadores. A prioridade tem sido manter a inflação baixa, com déficit público reduzido e orçamento equilibrado.
Entretanto, algumas reformas importantes foram promovidas no setor. Com os trabalhistas, o Banco Central inglês passou a ter independência do governo para estabelecer as taxas de juros. Também foi estabelecido o conceito de um salário mínimo e proposta uma série de inovações no sistema de concessão de benefícios sociais, o chamado "welfare state".
Apesar de a economia britânica estar indo muito bem, analistas prevêem que o principal desafio do primeiro-ministro no próximo ano de mandato poderá ser exatamente nessa área.
Com a libra forte, as empresas britânicas estão tendo dificuldades em exportar e estão perdendo terreno no mercado internacional.
Números oficiais mostraram que nos primeiros três meses do ano a indústria manufatureira entrou em recessão no país. O rendimento do setor teve queda durante quatro trimestres seguidos, sendo que, de janeiro a março deste ano, o decréscimo foi de 0,2%.
Esse processo ainda não afetou o nível de emprego no país, um dos mais altos da Europa, mas há o risco de que isso aconteça.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.