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MISSÃO NO CARIBE
General Heleno, comandante da força de paz, chega ao país e diz que o objetivo é "ajudar o Haiti a decolar"
Brasil passa hoje a liderar missão no Haiti
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
O Brasil assume hoje o comando da força de paz da ONU no
Haiti, a primeira vez em que o
país não só tem a chefia de uma
missão do gênero, como também,
ao mesmo tempo, contribui com
a maioria das tropas.
O Brasil contribuiu com todas
as missões de paz recentes, mas
sua participação foi mais efetiva
quando se tratou de ex-colônias
portuguesas, como Angola.
Agora, porém, a operação no
Haiti é vista como estratégica para
as pretensões brasileiras na ONU,
já que o país quer ser membro
permanente do Conselho de Segurança. Mas a missão é controversa -militantes de esquerda
consideram-na uma intervenção.
Acusação semelhante cercou a
participação do Brasil na missão
de paz na República Dominicana
em 1965 e 1966, vista como uma
intervenção americana.
Aparentemente alheio a esse debate, o general-de-divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que será o comandante da força internacional, chegou ontem à capital,
Porto Príncipe, e declarou que espera contar com a empatia da tropa brasileira em meio à população
local para facilitar a missão.
"Estamos aqui para ajudar o
Haiti a decolar e para acreditar na
sua pujança, na sua reconstrução", disse ele a jornalistas em
francês -uma das duas línguas
oficiais do país (a outra é o creole,
originária de escravos africanos e
influenciada pelo francês).
Hoje deve chegar ao Haiti o primeiro grande escalão da tropa
brasileira, com 150 homens, o segundo desde a chegada de um
destacamento precursor no sábado passado. Estes cerca de 200
brasileiros serão a vanguarda de
uma força total de 1.200 homens.
O resto da tropa deve chegar apenas na metade de junho.
"A verdadeira troca de poder
vai acontecer ao longo do mês,
por volta do dia 20", disse o general. Hoje o Haiti tem sua segurança nas mãos de uma força interina
multinacional de 3.500 soldados,
dos quais quase 2.000 são dos
EUA e o restante é da França, do
Canadá e do Chile.
A ONU autorizou 6.700 militares e 1.622 policiais, mas não há
confirmação da participação nem
de metade desse número.
O Chile está aumentando seu
envolvimento para perto de 600
homens, que estão chegando ao
longo do mês. Uma unidade argentina de 500 homens deve chegar apenas no final de junho ou
começo de julho, junto com militares do Uruguai. Também está
prevista a permanência de uma
companhia (unidade de cerca de
200 homens) canadense e outra
paraguaia, que se integrará diretamente à Brigada Haiti (brasileira).
"Também é possível a presença
de um batalhão nepalês e tropas
da Bolívia e do Peru. Estamos em
fase de reunir meios", afirmou o
general Heleno.
Essas forças de poucos milhares
de homens precisam cuidar de
um país de 7 milhões de habitantes com uma capital com centenas
de milhares de pessoas.
As patrulhas de soldados são
mais visíveis na área central da capital. É o caso dos marines americanos, de rostos avermelhados
pelo calor de mais de 30C e suando copiosamente em seus uniformes com coletes à prova de bala.
Esta é a quarta vez em um século que os marines desembarcam
no Haiti por conta de distúrbios
políticos. A penúltima foi nos
anos 90 para recolocar no cargo o
presidente Jean-Bertrand Aristide, deposto por militares; desta
vez foi para manter a ordem depois que Aristide foi deposto por
rebeldes e exilou-se -o ex-presidente acusa os EUA e a França de
terem forçado sua renúncia.
Não existe ainda um comandante-adjunto da força de paz. O
terceiro na hierarquia é o coronel
canadense Barry MaCleod, de cuja unidade vieram os canadenses
hoje na força multilateral.
Indagado por jornalistas haitianos se as forças da ONU recolheriam armas ilegais, Heleno respondeu que sim, pois está na resolução da ONU. Ele enfatizou,
porém, que uma missão de paz
não é somente militar -há os lados humanitário e econômico, este último "prioritário". A ONU
aprendeu com seus erros, disse
ele. Um deles foi a pouca duração
das missões; outro foi não ter
sempre respeitado valores locais.
O general lembrou aos jornalistas que tinha acabado de chegar e
usou a linguagem do futebol para
explicar sua situação: "Estou chegando para jogar, não sei ainda se
com chuteira com trava alta ou
trava baixa, ou, como dizia o Garrincha, se o adversário foi informado da nossa tática".
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