São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Relatório interno obtido pelo "New York Times" lista denúncias de agressão a civis iraquianos por militares

EUA apuram roubos cometidos por soldados

DA REDAÇÃO

O Exército dos EUA investiga mais de 20 denúncias contra militares americanos que teriam roubado ou agredido civis iraquianos, levando dinheiro, jóias e outros bens durante patrulhas e revistas, informou ontem o jornal "The New York Times", que cita documentos do Pentágono.
Se comprovados, os episódios contribuirão para deteriorar a imagem americana no país e na região, já bastante fragilizada pelo escândalo da tortura de prisioneiros por soldados dos EUA. Além disso, mostrarão que as transgressões não se limitaram às prisões e aos prisioneiros iraquianos.
Um relatório interno editado no meio de maio a pedido de oficiais que investigam crimes cometidos por soldados dos EUA no Iraque, obtido pelo "Times" por meio de um oficial graduado que não quis ser identificado, lista os tipos de transgressão que o Exército investiga -do início da ocupação, em março de 2003, até 21 de maio último, houve 18 queixas de roubo e seis de agressão-, mas não nomeia os envolvidos nem cita medidas tomadas.
Os EUA também apuram 37 mortes de prisioneiros iraquianos ou afegãos ocorridas sob sua custódia em cerca de dois anos.
"O fato de um soldado agir criminalmente prejudica nossa reputação. Para o iraquiano comum, a pergunta que fica é "qual a diferença entre o que faziam as forças [do ex-ditador] Saddam Hussein e o que fazem esses soldados?'", disse ao jornal o oficial que entregou o relatório. O porta-voz da comissão que investiga o caso não respondeu às tentativas de contato do "Times".
Entre as denúncias, há casos de roubo de iraquianos em postos de controle, sob o pretexto de que se tratasse de dinheiro da insurgência ou de seus financiadores, e de espancamento e intimidação de civis por meio de tiros.
A Defesa trata os casos como episódios isolados, embora alguns oficiais afirmem que os números do relatório são uma estimativa otimista do que acontece, já que muitos iraquianos temem denunciar americanos. A posição da Defesa se assemelha à assumida diante da tortura, apontada por alguns como um comportamento sistemático e disseminado dentro das Forças Armadas.

Transição
Num quadro que se complica a cada dia, a tentativa americana de instalar no Iraque, em 30 de junho, um governo escolhido pela ONU sofreu novo revés, quando líderes iraquianos vetaram o nome proposto pela entidade para a presidência interina do país.
A ONU e os EUA já haviam sido surpreendidos na última semana pela imposição do nome do sunita Iyad Allawi como premiê interino pelo Conselho de Governo Iraquiano -órgão consultivo que deixará de existir no dia 30. Agora, enfrentam objeções para a nomeação do presidente, cargo para o qual apóiam o ex-chanceler Adnan Pachachi, sunita. O conselho apóia seu atual líder, o chefe tribal sunita Ghazi Yawar.
Pelo plano do enviado da ONU ao Iraque, Lakhdar Brahimi, o governo interino contará com um premiê, um presidente, dois vices e 26 ministros. Mas Brahimi, cuja missão é escolher um governo que conte com o apoio dos iraquianos e garanta apoio internacional ao plano americano de reconstrução, pouco avançou.
Suas ações têm esbarrado nos membros do conselho, um grupo pouco popular cujo mandato, outorgado pelos EUA, é considerado ilegítimo pela maioria dos iraquianos.


Com "The New York Times" e agências internacionais

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