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EUROPA
Batido no plebiscito sobre a Carta da UE, presidente francês põe Villepin no governo e dá cargo a rival conservador
Chirac troca premiê e fala em "incertezas"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O presidente da França, Jacques
Chirac, escolheu ontem o ministro do Interior, Dominique de Villepin, 51, para substituir Jean-Pierre Raffarin no posto de premiê, conforme era esperado desde antes da derrota do "sim" no
plebiscito sobre a Constituição
européia, no domingo.
"O plebiscito abriu um período
de dificuldades e incertezas para a
Europa e para a França. Devemos
marchar juntos em defesa dos interesses nacionais", disse Chirac,
ontem à noite, em cadeia de TV.
O presidente não admitiu que o
plebiscito seja um "não" definitivo da França à Europa. Interpretou o resultado das urnas como
uma demanda dos franceses por
"ações determinadas e imediatas"
em favor de problemas internos,
como o desemprego e a estagnação dos salários.
O nome de Villepin não era,
contudo, bem-visto pelos deputados da União por um Movimento
Popular (UMP), o partido de Chirac, que preferiam a escolha do
presidente da legenda, Nicolas
Sarkozy. Este é o maior rival de
Chirac na direita francesa.
Para acalmar os ânimos, Sarkozy voltará ao posto de ministro
do Interior (número 2 do governo), que ocupou antes de Villepin.
Porém a "coabitação" entre ambos deverá ser espinhosa, segundo analistas. Afinal, na semana
passada, Sarkozy disse que alguém que nunca ganhou uma
eleição decidida pelo sufrágio
universal (Villepin) "não poderia
ser premiê".
A oposição não demorou para
criticar a nomeação de Villepin e a
agora certa presença de Sarkozy
em seu gabinete. Para os socialistas, Chirac "não ouviu a mensagem das urnas" no domingo,
quando "os franceses se pronunciaram claramente contra as políticas do governo ao rejeitar a
Constituição européia".
Para vários oposicionistas, como a ex-ministra da Justiça Elisabeth Guigou (socialista), a França
atravessa uma "real crise de regime, além de um caos político".
Raffarin
O agora ex-premiê Raffarin
nunca foi um protagonista da cena política francesa. Ex-presidente do Conselho Regional de Poitou-Charentes (oeste), sempre foi
visto como um homem do interior -da "França profunda"- e
foi apelidado de "camponês do
Poitou" por jornais e por programas de TV satíricos.
Seu balanço no governo é catastrófico, tendo terminado como o
premiê mais impopular (74%) da
história da Quinta República, começada em 1958. Seus problemas
começaram em 2003, quando lançou seu projeto de reforma da
aposentadoria. Em seguida, num
verão particularmente quente,
uma onda de calor matou milhares de pessoas, e ele foi acusado de
demorar demais para reagir porque estava de férias.
Na volta às aulas, em setembro
do mesmo ano, greves de estudantes e de professores abalaram
ainda mais sua posição. Porém
2004 seria ainda pior. O aprofundamento de seu projeto de reformas, que atingiu a educação, a
Previdência Social e o mercado de
trabalho, foi muito malvisto, e a
UMP sofreu duas graves derrotas
nas eleições regional e européia,
ainda no primeiro semestre.
Contra todas as expectativas,
Chirac o manteve no poder. Com
isso, Raffarin acabou sendo um
dos principais cabos eleitorais do
"sim" na campanha para o plebiscito sobre a Carta européia. Após
a clara derrota de domingo, cujo
maior responsável foi, sem dúvida, Chirac, sua permanência no
poder tornou-se impossível. Ele
foi premiê durante 37 meses.
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