São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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Novo escândalo assombra EUA no Iraque

Segundo jornal, inquérito revela que civis foram mortos em Haditha por militares, em caso que traz ecos das torturas de Abu Ghraib

Bush se diz preocupado com a conclusão, que contradiz a versão dos marines para o caso e ameaça deteriorar a imagem dos EUA na região

DA REDAÇÃO

Um inquérito militar conduzido pelas Forças Armadas dos EUA no Iraque concluiu que marines americanos mataram a tiros 24 civis iraquianos desarmados em Haditha, no noroeste do país, em novembro passado. O caso traz ecos do escândalo na prisão de Abu Ghraib, onde soldados americanos torturaram prisioneiros em 2004 e provocaram danos indeléveis à imagem dos EUA.
As conclusões do inquérito estavam no "New York Times" de ontem e ainda não foram divulgadas oficialmente. O Pentágono e a Marinha haviam se eximido de discutir detalhes da investigação, alegando que poderiam comprometê-la.
O inquérito, conduzido pelo coronel Gregory Watt desde fevereiro, contradiz a versão dos fuzileiros navais de que os iraquianos foram mortos por uma bomba improvisada deixada por insurgentes.
Dentre as provas apresentadas contra a versão militar, estão certidões de óbito que mostram que as vítimas foram baleadas -sobretudo na cabeça e no peito.
O inquérito também levantou questões sobre se os fuzileiros navais seguiram regras para identificar ameaças hostis ao invadirem casas perto do local em que uma bomba havia matado um militar americano. Dentre as vítimas em Haditha havia mulheres e crianças.
As famílias de 15 dos 24 mortos receberam compensações em dinheiro que totalizariam US$ 38 mil. A indenização pelos outros nove não foi dada, segundo os Marines, porque eles seriam uma ameaça real às forças americanas, portanto seus parentes não poderiam receber o dinheiro. Famílias de duas crianças que ficaram feridas receberam US$ 250.

Preocupação
A divulgação do inquérito contribui para a imagem negativa dos EUA no Oriente Médio. O presidente George W. Bush se disse "preocupado". "A Marinha está cheia de pessoas honrosas que entendem as regras da guerra", disse Bush, ontem, durante um encontro com o presidente de Ruanda, Paul Kagame. "Aqueles que violaram a lei, se o fizeram, serão punidos", afirmou.
Foi a primeira vez que o presidente americano falou publicamente sobre as mortes em Haditha, que já haviam sido tema de reportagens da revista "Time" em janeiro e fevereiro.
O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, disse que os resultados da investigação não serão encobertos. "Todos os detalhes serão trazidos a público, para podermos saber o que aconteceu", afirmou Snow.
O premiê iraquiano, Nuri al Maliki, disse que as mortes de civis em Haditha não foram justificadas e que as tropas da coalizão precisavam demonstrar mais cuidado. "Não é justificável que uma família seja morta porque alguém está combatendo terroristas. Precisamos ser mais específicos e mais cuidadosos."
O escândalo de Abu Ghraib foi classificado pelo próprio Bush, na semana passada, como o "pior erro" dos EUA no país (leia texto ao lado).
Órgãos de direitos humanos têm comparado as mortes em Haditha com o massacre na aldeia de My Lai, durante a Guerra do Vietnã, em 1968, quando militares americanos mataram cerca de 300 civis. A comparação vem se espalhando também por blogs americanos.

Estado de emergência
O premiê Maliki declarou estado de emergência por um mês na cidade de Basra (sul), pivô de uma disputa de poder entre facções xiitas iraquianas.
"Esperamos que depois de um mês voltemos a Basra e vejamos que a situação melhorou bastante", disse. Forças de segurança vão patrulhar as ruas da segunda maior cidade do Iraque dia e noite, além de conduzir operações de busca, segundo declarou à agência Reuters uma fonte do governo.

Mulheres baleadas
Ainda ontem, duas mulheres -uma delas grávida- foram mortas por militares americanos. Nabiha Nisaif Jassim, 35, estava em trabalho de parto, e seu irmão corria com o carro, levando ainda mais duas primas a uma maternidade em Samarra (125 km ao norte de Bagdá). Como não parou diante de uma barreira militar, o veículo foi alvejado por forças americanas, segundo a polícia iraquiana e testemunhas.


Com agências internacionais


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