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Novo escândalo assombra EUA no Iraque
Segundo jornal, inquérito revela que civis foram mortos em Haditha por militares, em caso que traz ecos das torturas de Abu Ghraib
Bush se diz preocupado com a conclusão, que contradiz a versão dos marines para o caso e ameaça deteriorar a imagem dos EUA na região
DA REDAÇÃO
Um inquérito militar conduzido pelas Forças Armadas dos
EUA no Iraque concluiu que
marines americanos mataram
a tiros 24 civis iraquianos desarmados em Haditha, no noroeste do país, em novembro
passado. O caso traz ecos do escândalo na prisão de Abu
Ghraib, onde soldados americanos torturaram prisioneiros
em 2004 e provocaram danos
indeléveis à imagem dos EUA.
As conclusões do inquérito
estavam no "New York Times"
de ontem e ainda não foram divulgadas oficialmente. O Pentágono e a Marinha haviam se
eximido de discutir detalhes da
investigação, alegando que poderiam comprometê-la.
O inquérito, conduzido pelo
coronel Gregory Watt desde fevereiro, contradiz a versão dos
fuzileiros navais de que os iraquianos foram mortos por uma
bomba improvisada deixada
por insurgentes.
Dentre as provas apresentadas contra a versão militar, estão certidões de óbito que mostram que as vítimas foram baleadas -sobretudo na cabeça e
no peito.
O inquérito também levantou questões sobre se os fuzileiros navais seguiram regras para
identificar ameaças hostis ao
invadirem casas perto do local
em que uma bomba havia matado um militar americano.
Dentre as vítimas em Haditha
havia mulheres e crianças.
As famílias de 15 dos 24 mortos receberam compensações
em dinheiro que totalizariam
US$ 38 mil. A indenização pelos outros nove não foi dada, segundo os Marines, porque eles
seriam uma ameaça real às forças americanas, portanto seus
parentes não poderiam receber
o dinheiro. Famílias de duas
crianças que ficaram feridas receberam US$ 250.
Preocupação
A divulgação do inquérito
contribui para a imagem negativa dos EUA no Oriente Médio. O presidente George W.
Bush se disse "preocupado". "A
Marinha está cheia de pessoas
honrosas que entendem as regras da guerra", disse Bush, ontem, durante um encontro com
o presidente de Ruanda, Paul
Kagame. "Aqueles que violaram a lei, se o fizeram, serão punidos", afirmou.
Foi a primeira vez que o presidente americano falou publicamente sobre as mortes em
Haditha, que já haviam sido tema de reportagens da revista
"Time" em janeiro e fevereiro.
O porta-voz da Casa Branca,
Tony Snow, disse que os resultados da investigação não serão
encobertos. "Todos os detalhes
serão trazidos a público, para
podermos saber o que aconteceu", afirmou Snow.
O premiê iraquiano, Nuri al
Maliki, disse que as mortes de
civis em Haditha não foram
justificadas e que as tropas da
coalizão precisavam demonstrar mais cuidado. "Não é justificável que uma família seja
morta porque alguém está
combatendo terroristas. Precisamos ser mais específicos e
mais cuidadosos."
O escândalo de Abu Ghraib
foi classificado pelo próprio
Bush, na semana passada, como o "pior erro" dos EUA no
país (leia texto ao lado).
Órgãos de direitos humanos
têm comparado as mortes em
Haditha com o massacre na aldeia de My Lai, durante a Guerra do Vietnã, em 1968, quando
militares americanos mataram
cerca de 300 civis. A comparação vem se espalhando também
por blogs americanos.
Estado de emergência
O premiê Maliki declarou estado de emergência por um
mês na cidade de Basra (sul),
pivô de uma disputa de poder
entre facções xiitas iraquianas.
"Esperamos que depois de
um mês voltemos a Basra e vejamos que a situação melhorou
bastante", disse. Forças de segurança vão patrulhar as ruas
da segunda maior cidade do
Iraque dia e noite, além de conduzir operações de busca, segundo declarou à agência Reuters uma fonte do governo.
Mulheres baleadas
Ainda ontem, duas mulheres
-uma delas grávida- foram
mortas por militares americanos. Nabiha Nisaif Jassim, 35,
estava em trabalho de parto, e
seu irmão corria com o carro,
levando ainda mais duas primas a uma maternidade em Samarra (125 km ao norte de Bagdá). Como não parou diante de
uma barreira militar, o veículo
foi alvejado por forças americanas, segundo a polícia iraquiana e testemunhas.
Com agências internacionais
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