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García deixa rival de lado e ataca Chávez
Ex-presidente peruano eleva tom de crítica ao venezuelano, estratégia que o tornou favorito para eleição de domingo
Campanha do nacionalista
Ollanta Humala já rejeita o
respaldo de Chávez, cujos
insultos a García causaram
efeito contrário ao desejado
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Até a campanha do nacionalista Ollanta Humala admite:
ao se meter na eleição peruana,
Hugo Chávez, se transformou
no principal cabo eleitoral de
Alan García, que praticamente
não fala mais sobre o seu adversário de domingo para centrar
fogo no venezuelano e, por outro lado, cortejar o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não vamos nos dobrar diante do dinheiro negro do senhor
Chávez. Ele tem uma estratégia-dominó, que é acelerar sua
influência na Bolívia, fazer o
mesmo no Peru com Humala,
estender isso ao Equador com
[o ex-presidente] Lúcio Gutierrez e, assim, cercar a Colômbia,
seu objetivo estratégico", disse
García ontem, em entrevista
coletiva realizada em Lima.
"Aqui está em jogo o destino
democrático da América do
Sul, e prefiro os governos como
o de Lula da Silva, no Brasil, e o
governo socialista da presidente [Michelle] Bachelet, porque
eles garantem a democracia, o
respeito às instituições e a tolerância", continuou.
Para García, Lula e Bachelet
são "a esquerda democrática e
moderna", enquanto o venezuelano é a "tentação totalitária". De acordo com ele, a eleição de domingo será "uma escolha entre Peru ou Chávez".
Nos 25 minutos em que durou o encontro, García mencionou diretamente Chávez nada
menos que 13 vezes, e a Venezuela, duas vezes. Já o nome de
seu adversário foi pronunciado
duas vezes -a mesma quantidade que Lula, a quem tem elogiado na reta final.
A estratégia antichavista de
García se baseia no forte impacto negativo na opinião pública das declarações de Chávez, que, entre outros insultos,
disse que o adversário de Humala é um "ladrão" e chamou o
presidente Alejandro Toledo
de "louco" e "chorão" por ter
anunciado que denunciará a intromissão do venezuelano à
Organização dos Estados Americanos (OEA).
O imbróglio com Chávez envolveu até o ex-chefe de inteligência Vladimiro Montesinos,
pivô do megaescândalo de corrupção que derrubou Alberto
Fujimori, em 2000. Preso há
cinco anos num presídio de segurança máxima perto de Lima, ele lançou na segunda-feira
o livro "Peão de Xadrez: A
Guerra Assimétrica Cubano-Venezuelana e suas Implicações nas Eleições Peruanas".
Com 41 páginas, o "ensaio de
inteligência", como o autor define, sustenta que o "peão" Humala é "um instrumento e um
produto da inteligência cubana
e venezuelana". Montesinos
prevê a vitória de García, mas
diz que, depois, o nacionalista
"trará caos, instabilidade e a
crise econômica favorável à estratégia de Castro-Chávez".
Em reação ao livro, Humala
disse que representa um "nexo
carimbado" entre García e
Montesinos, acusado desde
tráfico de armas até corrupção.
Para o analista político peruano Santiago Pedraglio,
Montesinos age sozinho e tem
como objetivo cobrar de García
sua ajuda na campanha em caso de vitória do ex-presidente
no próximo domingo.
Distância de Chávez
Os efeitos da ingerência de
Chávez tem exasperado a campanha de Humala, que, no início, procurou associar sua imagem à do presidente venezuelano, visitando-o em Caracas.
"A melhor campanha a favor
de García está sendo feita pelas
intervenções do senhor Hugo
Chávez na política peruana",
disse o porta-voz de Humala,
Carlos Tapia, em entrevista coletiva anteontem, em Lima.
"Assim como ele disse "Alca ao
caralho", nós lhe dizemos que
ele não deve intervir na política
peruana porque o senhor Hugo
Chávez deve ir ao caralho."
Enquanto isso, Humala tem
lançado várias acusações contra García. Na segunda-feira,
mostrou cópias de e-mail que
comprovariam um encontro
entre seu adversário e a filha de
Fujimori Keiko, deputada eleita. Ontem, acusou o Apra, o
partido de García, de sondá-lo
para apoiar um golpe de Estado
contra Toledo, em 2003.
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