São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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García deixa rival de lado e ataca Chávez

Ex-presidente peruano eleva tom de crítica ao venezuelano, estratégia que o tornou favorito para eleição de domingo

Campanha do nacionalista Ollanta Humala já rejeita o respaldo de Chávez, cujos insultos a García causaram efeito contrário ao desejado

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Até a campanha do nacionalista Ollanta Humala admite: ao se meter na eleição peruana, Hugo Chávez, se transformou no principal cabo eleitoral de Alan García, que praticamente não fala mais sobre o seu adversário de domingo para centrar fogo no venezuelano e, por outro lado, cortejar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não vamos nos dobrar diante do dinheiro negro do senhor Chávez. Ele tem uma estratégia-dominó, que é acelerar sua influência na Bolívia, fazer o mesmo no Peru com Humala, estender isso ao Equador com [o ex-presidente] Lúcio Gutierrez e, assim, cercar a Colômbia, seu objetivo estratégico", disse García ontem, em entrevista coletiva realizada em Lima.
"Aqui está em jogo o destino democrático da América do Sul, e prefiro os governos como o de Lula da Silva, no Brasil, e o governo socialista da presidente [Michelle] Bachelet, porque eles garantem a democracia, o respeito às instituições e a tolerância", continuou.
Para García, Lula e Bachelet são "a esquerda democrática e moderna", enquanto o venezuelano é a "tentação totalitária". De acordo com ele, a eleição de domingo será "uma escolha entre Peru ou Chávez".
Nos 25 minutos em que durou o encontro, García mencionou diretamente Chávez nada menos que 13 vezes, e a Venezuela, duas vezes. Já o nome de seu adversário foi pronunciado duas vezes -a mesma quantidade que Lula, a quem tem elogiado na reta final.
A estratégia antichavista de García se baseia no forte impacto negativo na opinião pública das declarações de Chávez, que, entre outros insultos, disse que o adversário de Humala é um "ladrão" e chamou o presidente Alejandro Toledo de "louco" e "chorão" por ter anunciado que denunciará a intromissão do venezuelano à Organização dos Estados Americanos (OEA).
O imbróglio com Chávez envolveu até o ex-chefe de inteligência Vladimiro Montesinos, pivô do megaescândalo de corrupção que derrubou Alberto Fujimori, em 2000. Preso há cinco anos num presídio de segurança máxima perto de Lima, ele lançou na segunda-feira o livro "Peão de Xadrez: A Guerra Assimétrica Cubano-Venezuelana e suas Implicações nas Eleições Peruanas".
Com 41 páginas, o "ensaio de inteligência", como o autor define, sustenta que o "peão" Humala é "um instrumento e um produto da inteligência cubana e venezuelana". Montesinos prevê a vitória de García, mas diz que, depois, o nacionalista "trará caos, instabilidade e a crise econômica favorável à estratégia de Castro-Chávez".
Em reação ao livro, Humala disse que representa um "nexo carimbado" entre García e Montesinos, acusado desde tráfico de armas até corrupção.
Para o analista político peruano Santiago Pedraglio, Montesinos age sozinho e tem como objetivo cobrar de García sua ajuda na campanha em caso de vitória do ex-presidente no próximo domingo.

Distância de Chávez
Os efeitos da ingerência de Chávez tem exasperado a campanha de Humala, que, no início, procurou associar sua imagem à do presidente venezuelano, visitando-o em Caracas.
"A melhor campanha a favor de García está sendo feita pelas intervenções do senhor Hugo Chávez na política peruana", disse o porta-voz de Humala, Carlos Tapia, em entrevista coletiva anteontem, em Lima. "Assim como ele disse "Alca ao caralho", nós lhe dizemos que ele não deve intervir na política peruana porque o senhor Hugo Chávez deve ir ao caralho."
Enquanto isso, Humala tem lançado várias acusações contra García. Na segunda-feira, mostrou cópias de e-mail que comprovariam um encontro entre seu adversário e a filha de Fujimori Keiko, deputada eleita. Ontem, acusou o Apra, o partido de García, de sondá-lo para apoiar um golpe de Estado contra Toledo, em 2003.


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