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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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REAÇÃO

Oposição francesa à Guerra do Iraque afeta vendas

Compradores americanos somem de feira de vinhos em Bordeaux

CRAIG S. SMITH
DO "NEW YORK TIMES", EM BORDEAUX

Faltava alguma coisa na maior feira vinícola francesa, na semana passada. O contingente usual de comerciantes americanos de vinho estava ausente, confirmando para muitos participantes que a irritação dos EUA com a oposição francesa à Guerra do Iraque havia afetado mais do que alguns egos.
As vendas de vinho aos EUA, no passado o mais promissor mercado das vinícolas francesas e agora um dos maiores concorrentes do país, estão afundando.
"Ficou claro, da parte dos nossos distribuidores americanos, que existe certa hesitação quanto a promover vinhos franceses, por enquanto", disse Bruno Finance, gerente de vendas da Yvon Mau, uma das maiores casas de comércio de vinho de Bordeaux, sudoeste da França. Segundo ele, o vinho francês vem perdendo partes de outros mercados. "Mas, por enquanto, o único lugar com grandes perdas são os EUA".
As exportações francesas aos EUA já vêm sofrendo com a fraqueza da economia americana e com a queda do valor do dólar diante do euro, o que torna os produtos franceses mais caros. No geral, as exportações francesas aos EUA caíram em 21% nos quatro primeiros meses do ano, excluídos os produtos militares.
Não há dúvida de que a disputa transatlântica sobre o Iraque ajudou a agravar as coisas para diversos setores. Os executivos de aviação americanos estavam perceptivelmente ausentes em junho do Salão Aeronáutico de Paris, um evento bienal, acompanhando o exemplo do Departamento da Defesa, que enviou poucos de seus aviões mais avançados.
A França está tentando reparar os danos com uma campanha de relações públicas não muito bem concebida cujo lema é "vamos nos apaixonar de novo" e inclui um vídeo no qual o envelhecido comediante Woody Allen fala em beijar sua jovem mulher à francesa. O Escritório Turístico de Paris, que planeja decorar os Champs-Elysées com as cores da bandeira dos EUA em 4 de julho, disse que muitos hotéis da capital celebrariam o feriado nacional dos EUA.
Mas há comerciantes no mercado de vinhos preocupados com a possibilidade de que os danos não sejam tão fáceis de consertar. Os vinhos franceses jamais recuperaram plenamente a fatia que detinham no mercado escandinavo, depois do boicote que a região organizou em protesto contra os testes nucleares franceses no Pacífico, em 1995. "O boicote deu às pessoas a oportunidade de experimentar outros vinhos, e elas não voltaram aos franceses", disse Finance. Ele está preocupado com a crise num momento em que a competição vem crescendo e o mercado está instável.
As exportações de vinhos franceses para os EUA, que atingiram quase US$ 1 bilhão em 2002, respondem por 16% das vendas das vinícolas francesas no exterior.
O volume dessas exportações caiu em 9% nos quatro primeiros meses do ano, mas a tendência de longo prazo é ainda pior, porque esses números incluem vinhos de Bordeaux vendidos há dois anos, antes de serem engarrafados.


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