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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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ANÁLISE

Por que Berlusconi é ruim para a UE e para a Itália

QUENTIN PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"

Enquanto a Itália assume a presidência da União Européia (UE), hoje, sinais de alarme tocam em todo o continente. A preocupação é com a perspectiva de ter Silvio Berlusconi, o premiê italiano, no comando do bloco. Os críticos de Berlusconi dizem que, na melhor das hipóteses, ele será um líder imprevisível num momento crítico para a UE. Na pior das hipóteses, poderia precipitar novos conflitos. Eles temem o pior.
Observadores experimentados questionam a coerência de seu governo e de suas políticas sobre várias das mais importantes questões na pauta européia. Eles temem que o magnata da mídia seja guiado por prioridades pessoais, quando deveria estar focado em questões internacionais, ou que use o cargo como plataforma de marketing pessoal.
Por que isso é importante? Outros países exerceram a presidência da UE quando seus governos estavam em crises muito piores. Mas a Itália é diferente, e Berlusconi tornou as coisas ainda mais diferentes. Seu estilo pessoal sugere que ele tem poucas preocupações com as regras da boa governança que o bloco exige de todos os seus membros.
Berlusconi assume o cargo quando as divisões sobre a Guerra do Iraque deixaram as relações entre vários líderes europeus arranhadas e a relação entre a UE e os EUA em farrapos. Ele assumiu uma linha tão pró-americana que é improvável que consiga reconciliar quem quer que seja.
Uma mão firme é certamente necessária para administrar a UE. A experiência sugere que isso não virá de Berlusconi. Sua reputação pessoal não ajuda. Como premiê, ele nunca conseguiu separar sua atuação no governo de seus negócios. Na verdade, ele promoveu leis para proteger seus interesses contra a legislação antitruste e investigações judiciais. Ele nem sequer tentou esconder seu comportamento. E não parece reconhecer isso como um problema.
Boa administração é uma exigência feita a todos os membros do bloco e um dogma da nova doutrina de segurança da UE, a ser refinada durante a presidência italiana. Há poucas dúvidas de que se a Itália estivesse tentando entrar hoje na UE, o pedido seria rejeitado se Berlusconi se negasse a desmanchar seu império de mídia. O fato é que a UE tem sido sempre uma força poderosa para a disciplina política na Itália, mas é uma força que Berlusconi parece rejeitar.
Se o premiê buscar uma pauta excessivamente pessoal ou nacional na presidência, será ruim para a UE. Certamente não ajudará a curar as feridas abertas no Iraque. Mas, no longo prazo, não será a UE quem mais sofrerá, mas a Itália e a sua reputação na Europa.


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