|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Por que Berlusconi é ruim para a UE e para a Itália
QUENTIN PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"
Enquanto a Itália assume a presidência da União Européia (UE),
hoje, sinais de alarme tocam em
todo o continente. A preocupação
é com a perspectiva de ter Silvio
Berlusconi, o premiê italiano, no
comando do bloco. Os críticos de
Berlusconi dizem que, na melhor
das hipóteses, ele será um líder
imprevisível num momento crítico para a UE. Na pior das hipóteses, poderia precipitar novos conflitos. Eles temem o pior.
Observadores experimentados
questionam a coerência de seu
governo e de suas políticas sobre
várias das mais importantes questões na pauta européia. Eles temem que o magnata da mídia seja guiado por prioridades pessoais,
quando deveria estar focado em
questões internacionais, ou que
use o cargo como plataforma de
marketing pessoal.
Por que isso é importante? Outros países exerceram a presidência da UE quando seus governos estavam em crises muito piores.
Mas a Itália é diferente, e Berlusconi tornou as coisas ainda mais
diferentes. Seu estilo pessoal sugere que ele tem poucas preocupações com as regras da boa governança que o bloco exige de todos
os seus membros.
Berlusconi assume o cargo
quando as divisões sobre a Guerra
do Iraque deixaram as relações
entre vários líderes europeus arranhadas e a relação entre a UE e
os EUA em farrapos. Ele assumiu
uma linha tão pró-americana que
é improvável que consiga reconciliar quem quer que seja.
Uma mão firme é certamente
necessária para administrar a UE.
A experiência sugere que isso não
virá de Berlusconi. Sua reputação
pessoal não ajuda. Como premiê,
ele nunca conseguiu separar sua
atuação no governo de seus negócios. Na verdade, ele promoveu
leis para proteger seus interesses
contra a legislação antitruste e investigações judiciais. Ele nem sequer tentou esconder seu comportamento. E não parece reconhecer isso como um problema.
Boa administração é uma exigência feita a todos os membros
do bloco e um dogma da nova
doutrina de segurança da UE, a
ser refinada durante a presidência
italiana. Há poucas dúvidas de
que se a Itália estivesse tentando
entrar hoje na UE, o pedido seria
rejeitado se Berlusconi se negasse
a desmanchar seu império de mídia. O fato é que a UE tem sido
sempre uma força poderosa para
a disciplina política na Itália, mas
é uma força que Berlusconi parece rejeitar.
Se o premiê buscar uma pauta
excessivamente pessoal ou nacional na presidência, será ruim para
a UE. Certamente não ajudará a
curar as feridas abertas no Iraque.
Mas, no longo prazo, não será a
UE quem mais sofrerá, mas a Itália e a sua reputação na Europa.
Texto Anterior: Europa: Sob críticas, Berlusconi "assume" UE hoje Próximo Texto: Acidente: Avião cai sobre cidade e mata 17 na Argélia Índice
|