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Oposição argentina usa onda de crimes contra Kirchner
Atos brutais fazem país lembrar violência de 2003; governo vê motivação política
Informe oficial aponta alta
"exponencial" este ano de seqüestros relâmpagos e
toca numa das bandeiras da
oposição a Néstor Kirchner
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Acusado de roubar uma TV,
Lucas Ivarrola, 15, foi seqüestrado por três homens na segunda-feira em Buenos Aires,
levou um tiro e, quando agonizava, foi queimado vivo. No
mesmo dia, outros três homens
atacaram um motorista de ônibus, o roubaram e lhe cortaram
três dedos.
Os crimes brutais e o aumento dos seqüestros relâmpagos
-apontado num relatório oficial- e o crescimento do roubos de carros (11% neste ano,
segundo as seguradoras) deu
fôlego à polêmica entre o governo Kirchner, integrantes da
Justiça e a imprensa: há uma
nova onda de insegurança no
país, como a que ocorreu em
2003?
Naquele ano, houve 508 seqüestros e passeatas com milhares de pessoas pedindo o endurecimento das leis penais do
país. Agora, de abril do ano passado até abril de 2006, foram
44 crimes do tipo, a maioria seqüestros relâmpagos.
Apesar da queda, o informe
da unidade de seqüestros da
Procuradoria Geral da Nação
aponta o "exponencial crescimento que sofreu o tipo de delito na Capital em 2006".
O documento, publicado pelo jornal "La Nación", é um dos
poucos termômetros dos casos
violentos, que mereceram nos
últimos dias as manchetes do
diário conservador, que o governo Kirchner classifica como
"opositor".
Ao contrário do Brasil, na Argentina o governo não divulga
dados periódicos sobre a violência -a tese é que as estatísticas ajudam a popularizar os
"crimes do momento"- e acusa a imprensa de tentar o implantar o clima de insegurança.
Nos bastidores, fala-se de motivos eleitorais para a movimentação.
Aumentar a segurança é uma
das bandeiras de um opositor
de Kirchner, o deputado Mauricio Macri, que já declarou que
será candidato a presidente.
Kirchner já se lançou na campanha do ano que vem: tanto
para a Casa Rosada como nas
disputas provinciais. Anteontem, ministros do governo lançaram em Buenos Aires o
"Compromisso K", a corrente
que concorrerá apelando para a
popularidade de Kirchner.
Comoção
O pai de Lucas, o adolescente
queimado vivo, foi recebido pelo presidente Néstor Kirchner.
O governo preferiu relacionar o
crime com ecos da "repressão
militar" -uma bandeira estratégica do governo, já que dois
dos detidos são suboficiais da
Marinha argentina e a secretaria de Direitos Humanos foi
acionada.
O comentarista do "La Nación" Fernando Rodríguez respondeu dizendo que a Casa Rosada trata o problema da segurança com "oportunismo político e inclinações ideológicas".
O crime causou comoção: a
casa do pai dos acusados foi
queimada pela população de
Luján, onde ocorreu o crime,
na Grande Buenos Aires. É que,
antes da autópsia, se divulgou
que o adolescente havia tido as
mãos e o orelha arrancadas pelos assassinos -o cadáver foi
mutilado por animais depois,
segundo informações extra-oficiais dos legistas.
A juíza do caso, que cobrou
políticas para proteger os menores de idade da violência, foi
acusada pelo ministro do Interior, Aníbal Fernández, de querer "15 minutos de fama". "A
valorização do nível de delito
na Argentina se parece mais
com a Europa do que com a
América. Não concordo chamar de [onda] de insegurança."
"Não jogo com estatísticas
para não faltar o respeito com a
família das vítimas, mas sei
bem o que está acontecendo",
completou Fernández. Segundo ele, que é o chefe da Polícia
Federal argentina, há 5,87 homicídios por cada 100 mil habitantes/ano.
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