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Papa propõe reatamento com a China
Em mensagens a governo e católicos chineses, Bento 16 critica falta de liberdade religiosa, mas pede "superação de dificuldades"
Vaticano e China estão rompidos desde os anos 50; papa revoga diretriz que excomungava os bispos nomeados por Pequim
DA REDAÇÃO
Em carta aos católicos chineses e em mensagem ao governo
do país, o papa Bento 16 criticou ontem a falta de liberdade
religiosa na China, mas propôs
o reatamento das relações diplomáticas entre o Vaticano e
Pequim, rompidas desde os
anos 1950.
"É verdade que nos anos recentes a igreja desfrutou de
mais liberdade religiosa do que
no passado. Mas não pode ser
negado que permanecem grandes limitações que afetam o coração da fé e, até certo ponto,
sufocam a atividade pastoral",
disse Bento 16. "A Santa Sé continua aberta a negociações, tão
necessárias para a superação
das dificuldades atuais", continuou o papa.
Na China, a prática do catolicismo só é permitida em templos oficialmente reconhecidos
da Associação Patriótica Católica Chinesa, cujos bispos são
nomeados pelo governo. Pequim não reconhece as autoridades eclesiásticas indicadas
pelo Vaticano. A Nunciatura
Apostólica (representação diplomática da Santa Sé) está baseada em Taiwan, cuja soberania não é reconhecida pelo governo chinês.
Na mensagem ao governo, o
Vaticano disse estar pronto a
mudar sua representação diplomática para Pequim assim
que um acordo for alcançado.
No gesto considerado mais significativo, Bento 16 revogou diretrizes adotadas em 1988 pelo
Vaticano que consideravam automaticamente excomungado
qualquer bispo nomeado pela
Associação Patriótica Católica.
Também cancelou as licenças
especiais para que bispos clandestinos, indicados pela Santa
Sé, ordenassem padres.
O papa considerou a Associação Patriótica Católica "incompatível" com a doutrina da igreja. Ele homenageou os católicos
que "pagaram com sangue" por
se recusarem a juntar-se à igreja oficial, mas pediu-lhes que se
reconciliem com os demais, em
nome da unificação do catolicismo na China.
O Vaticano calcula que haja
entre 8 milhões e 12 milhões de
católicos na China, numa população de 1,3 bilhão, mas Bento 16 expressou a esperança de
que o país se torne um campo
fértil para a evangelização no
futuro. "Durante o terceiro milênio haverá uma grande colheita de fé no vasto e vibrante
continente asiático", disse.
O Vaticano deu grande destaque à divulgação das mensagens, enviadas com antecedência ao governo chinês. O porta-voz da Chancelaria chinesa,
Qin Gang, disse que o país "continuará a ter um diálogo franco
e construtivo com o Vaticano a
fim de superar as diferenças
entre os dois lados". Segundo
analistas citados pela Associated Press, o papa gostaria de um
acordo semelhante ao que foi
feito com o Vietnã, onde o governo seleciona os bispos a partir de indicações feitas pela
Santa Sé.
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