São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Papa propõe reatamento com a China

Em mensagens a governo e católicos chineses, Bento 16 critica falta de liberdade religiosa, mas pede "superação de dificuldades"

Vaticano e China estão rompidos desde os anos 50; papa revoga diretriz que excomungava os bispos nomeados por Pequim

DA REDAÇÃO

Em carta aos católicos chineses e em mensagem ao governo do país, o papa Bento 16 criticou ontem a falta de liberdade religiosa na China, mas propôs o reatamento das relações diplomáticas entre o Vaticano e Pequim, rompidas desde os anos 1950.
"É verdade que nos anos recentes a igreja desfrutou de mais liberdade religiosa do que no passado. Mas não pode ser negado que permanecem grandes limitações que afetam o coração da fé e, até certo ponto, sufocam a atividade pastoral", disse Bento 16. "A Santa Sé continua aberta a negociações, tão necessárias para a superação das dificuldades atuais", continuou o papa.
Na China, a prática do catolicismo só é permitida em templos oficialmente reconhecidos da Associação Patriótica Católica Chinesa, cujos bispos são nomeados pelo governo. Pequim não reconhece as autoridades eclesiásticas indicadas pelo Vaticano. A Nunciatura Apostólica (representação diplomática da Santa Sé) está baseada em Taiwan, cuja soberania não é reconhecida pelo governo chinês.
Na mensagem ao governo, o Vaticano disse estar pronto a mudar sua representação diplomática para Pequim assim que um acordo for alcançado. No gesto considerado mais significativo, Bento 16 revogou diretrizes adotadas em 1988 pelo Vaticano que consideravam automaticamente excomungado qualquer bispo nomeado pela Associação Patriótica Católica. Também cancelou as licenças especiais para que bispos clandestinos, indicados pela Santa Sé, ordenassem padres.
O papa considerou a Associação Patriótica Católica "incompatível" com a doutrina da igreja. Ele homenageou os católicos que "pagaram com sangue" por se recusarem a juntar-se à igreja oficial, mas pediu-lhes que se reconciliem com os demais, em nome da unificação do catolicismo na China.
O Vaticano calcula que haja entre 8 milhões e 12 milhões de católicos na China, numa população de 1,3 bilhão, mas Bento 16 expressou a esperança de que o país se torne um campo fértil para a evangelização no futuro. "Durante o terceiro milênio haverá uma grande colheita de fé no vasto e vibrante continente asiático", disse.
O Vaticano deu grande destaque à divulgação das mensagens, enviadas com antecedência ao governo chinês. O porta-voz da Chancelaria chinesa, Qin Gang, disse que o país "continuará a ter um diálogo franco e construtivo com o Vaticano a fim de superar as diferenças entre os dois lados". Segundo analistas citados pela Associated Press, o papa gostaria de um acordo semelhante ao que foi feito com o Vietnã, onde o governo seleciona os bispos a partir de indicações feitas pela Santa Sé.


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