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Visão de Estado forte e rumo da economia favorecem presidente
DA REDAÇÃO
Uma outra interpretação das
palavras de Bratislava, que pode explicar não o que é a "democracia" de Putin, mas dar
uma outra perspectiva do que é
retratado como apatia do povo,
é um conceito conhecido como
"Gosudarstvennost". Literalmente "estatismo" em russo,
ele designa, grosso modo, a
idéia de que o Estado não é inimigo da sociedade.
Obviamente não se trata de
justificar eventuais violações
dos direitos humanos, mas Putin tem popularidade entre os
russos porque, para muitos deles, encarna essa idéia, de que
não é necessariamente bom um
divórcio entre as engrenagens
do Estado e as da sociedade; ao
contrário, o Estado é um meio
apropriado para a promoção do
desenvolvimento dela.
Segundo o professor de história da Universidade Federal
Fluminese Angelo Segrillo, especialista em Rússia, esse conceito, desenvolvido historicamente pelo povo russo, tem
suas raízes no século 12, quando os eslavos livraram-se do jugo tártaro-mongol. E esse Estado era forte e centralizador, ao
contrário da organização social
conquistada pelos mongóis, no
século 9º.
"Muitos russos vêm o centralismo do governo, a adoção do
Estado forte como positivo, por
causa da visão da "Gosudarstvennost'", diz o historiador.
Disso pode-se deduzir que a
muitos não causou estranhamento aquele discurso.
Além disso, conta o professor
sobre o caso de Putin, ele foi
visto como um contraponto positivo à figura de Boris Ieltsin
(1991-99), considerado muito
apegado a valores ocidentais.
E essa visão, que no Ocidente
é geralmente qualificada de antiliberal, casou com o fato de a
era Ieltsin ter sido caótica, em
razão das reformas de transição de choque do modelo comunista para um modelo capitalista. As pessoas ansiavam
então por alguém que "pusesse
ordem na casa". Escolhido pelo
próprio Ieltsin para o suceder,
Putin surgiu como essa pessoa.
Bolso
É aí, diz Segrillo, que está a
base fundamental da popularidade de Vladimir Putin entre os
russos: na transformação econômica do país quando ele se
torna presidente.
Quando Putin entra na Presidência, a Rússia começa a crescer economicamente, conta Segrillo. Partindo, claro, de um
patamar de retração econômica causado pelas reformas de
Ieltsin. Mas, como lembra bem
o professor da UFF, teoria econômica não é sentida pelo povo, e o fato é que o crescimento
econômico que se reiniciou naquele momento afetou diretamente o povo russo. "Os salários estatais e aposentadorias
estavam atrasados, e Putin conseguiu praticamente botar isso
em dia. Houve também um aumento salarial real", diz.
A "Gosudarstvennost" conta
como perspectiva para a definição do que se quer como relação entre Estado e sociedade
-relação essa mediada, entre
outras coisas, pela democracia.
Mas nada fala tão alto como o
bolso cheio.
Assim, boa parte dos russos
não vê o mesmo Vladimir Putin
de Anna Politkovskaya. Uma
prova disso é que, segundo pesquisa do instituto americano
Pew Research Center divulgada na semana passada, 84% dos
russos confiam na liderança
global do presidente.
(FC)
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