São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Visão de Estado forte e rumo da economia favorecem presidente

DA REDAÇÃO

Uma outra interpretação das palavras de Bratislava, que pode explicar não o que é a "democracia" de Putin, mas dar uma outra perspectiva do que é retratado como apatia do povo, é um conceito conhecido como "Gosudarstvennost". Literalmente "estatismo" em russo, ele designa, grosso modo, a idéia de que o Estado não é inimigo da sociedade.
Obviamente não se trata de justificar eventuais violações dos direitos humanos, mas Putin tem popularidade entre os russos porque, para muitos deles, encarna essa idéia, de que não é necessariamente bom um divórcio entre as engrenagens do Estado e as da sociedade; ao contrário, o Estado é um meio apropriado para a promoção do desenvolvimento dela.
Segundo o professor de história da Universidade Federal Fluminese Angelo Segrillo, especialista em Rússia, esse conceito, desenvolvido historicamente pelo povo russo, tem suas raízes no século 12, quando os eslavos livraram-se do jugo tártaro-mongol. E esse Estado era forte e centralizador, ao contrário da organização social conquistada pelos mongóis, no século 9º.
"Muitos russos vêm o centralismo do governo, a adoção do Estado forte como positivo, por causa da visão da "Gosudarstvennost'", diz o historiador. Disso pode-se deduzir que a muitos não causou estranhamento aquele discurso.
Além disso, conta o professor sobre o caso de Putin, ele foi visto como um contraponto positivo à figura de Boris Ieltsin (1991-99), considerado muito apegado a valores ocidentais.
E essa visão, que no Ocidente é geralmente qualificada de antiliberal, casou com o fato de a era Ieltsin ter sido caótica, em razão das reformas de transição de choque do modelo comunista para um modelo capitalista. As pessoas ansiavam então por alguém que "pusesse ordem na casa". Escolhido pelo próprio Ieltsin para o suceder, Putin surgiu como essa pessoa.

Bolso
É aí, diz Segrillo, que está a base fundamental da popularidade de Vladimir Putin entre os russos: na transformação econômica do país quando ele se torna presidente.
Quando Putin entra na Presidência, a Rússia começa a crescer economicamente, conta Segrillo. Partindo, claro, de um patamar de retração econômica causado pelas reformas de Ieltsin. Mas, como lembra bem o professor da UFF, teoria econômica não é sentida pelo povo, e o fato é que o crescimento econômico que se reiniciou naquele momento afetou diretamente o povo russo. "Os salários estatais e aposentadorias estavam atrasados, e Putin conseguiu praticamente botar isso em dia. Houve também um aumento salarial real", diz.
A "Gosudarstvennost" conta como perspectiva para a definição do que se quer como relação entre Estado e sociedade -relação essa mediada, entre outras coisas, pela democracia. Mas nada fala tão alto como o bolso cheio.
Assim, boa parte dos russos não vê o mesmo Vladimir Putin de Anna Politkovskaya. Uma prova disso é que, segundo pesquisa do instituto americano Pew Research Center divulgada na semana passada, 84% dos russos confiam na liderança global do presidente. (FC)


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