São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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Africanos pressionam por divisão de poder no Zimbábue

Mas líderes rejeitam os apelos por não reconhecimento do governo de Mugabe

Ditador participa de cúpula da União Africana no Egito; EUA elaboram sanções para votação na ONU, incluindo embargo à venda de armas

DA REDAÇÃO

Líderes reunidos na cúpula da União Africana (UA) no Egito renovaram ontem a pressão a Robert Mugabe para negociar um governo de coalizão com a oposição no Zimbábue, mas rejeitaram apelos para declarar ilegítimo o governo do ditador.
O segundo turno da eleição que confirmou Mugabe no poder recebeu condenação quase universal, especialmente após a desistência do candidato opositor, Morgan Tsvangirai, devido à violência contra seus partidários.
Depois de uma campanha violenta que deixou quase 90 simpatizantes do opositor MDC (Movimento pela Mudança Democrática) mortos e 200 mil desalojados, testemunhas relataram que milícias leais ao governo forçaram cidadãos a votar em Mugabe. A UA e a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) condenaram a votação.
Mugabe foi à reunião da UA no balneário egípcio de Sharm el Sheik após prestar juramento no último domingo como presidente do Zimbábue, iniciando seu sexto mandato -ele está no poder há 28 anos.
Na cúpula, a maior parte dos líderes africanos citou "desafios" no Zimbábue, mas não foram ouvidas críticas duras a Mugabe. O rascunho da resolução que deve ser aprovada amanhã tampouco condena o segundo turno -só pede diálogo.
Participantes da conferência ouvidos em condição de anonimato afirmam que países do leste e oeste da África querem tomar uma posição mais dura, mas que o sul está dividido.
Em vez da rejeição, a África do Sul, mediadora da crise e que evita críticas ostensivas a Mugabe, tenta promover uma coalizão que daria a Tsvangirai um papel executivo e diminuiria as atribuições de Mugabe.
A proposta não chega a ser uma virada, mas demonstra endurecimento contra o governo zimbabuano devido à maior limitação do poder do ditador.
Já no Quênia, o premiê Raila Odinga pediu a suspensão do Zimbábue do grupo: "A UA não deveria aceitar ou entreter Mugabe", afirmou. Ele apoiou o envio de forças de paz para garantir a segurança de uma nova eleição, uma das demandas do MDC (as outras são o destacamento de um enviado da UA ao Zimbábue e o reconhecimento do resultado do primeiro turno, vencido por Tsvangirai).
O rol dos críticos a Mugabe, no entanto, perdeu temporariamente uma de suas vozes mais ativas: o presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa, foi internado ontem após sofrer um derrame. Ele está estável.

Fora da África
Enquanto a cúpula da UA focava em outros temas, potências ocidentais planejavam isolar o Zimbábue.
Os EUA, que pretendem expandir as sanções econômicas e de viagens que já impõem ao governo de Mugabe, redigiram ontem o rascunho de uma resolução a ser votada no Conselho de Segurança da ONU para punições a Harare -incluindo um embargo de armas.
Na Europa, o Reino Unido se manifestou a favor das sanções, enquanto a Itália chamou o embaixador zimbabuano no país para dar explicações.
Mas há sérias dúvidas de que a ONU imporá sanções. A África do Sul se opõe, e acredita-se que tenha o apoio de Rússia e China -que têm poder de veto.
No Zimbábue, a violência não deu trégua. O grupo Justice for Agriculture, que reúne fazendeiros brancos contrários à tomada de terras promovida na reforma agrária, denunciou ontem o espancamento e seqüestro de três associados em uma fazenda de Mashonaland, bastião do governista Zanu-PF.


Com agências internacionais


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