São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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FRANÇA

O socialista Bertrand Delanoë quer cidade mais tranqüila, sem poluição e com mais moradias para a população de baixa renda

Prefeito socialista muda a cara de Paris

Stéphane de Sakutin - 24.jul.2004/France Presse
Parisienses e turistas se refrescam em chuveiro na praia montada à margem do rio Sena, em Paris


FLAVIA VARELA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS

A obra pela qual o governo do atual prefeito de Paris é mais conhecido é efêmera. Paris Plage, a transformação da margem do rio Sena em praia turística, dura só um mês por ano. Mas Bertrand Delanoë, socialista com ambições presidenciais, pretende deixar uma outra obra bem mais radical e duradoura. Ele quer que Paris se torne uma cidade tranqüila, sem congestionamentos, sem poluição, sem barulho, com muito verde e mais moradias para a população de baixa renda.
O projeto de Delanoë está resumido no Plano Local de Urbanismo, cujo esboço foi apresentado há dois meses para que os parisienses dessem suas opiniões por meio de um questionário. Quando finalizado, no final de 2005, o PLU fixará as regras para a cidade nos próximos 20 anos.
O prefeito não está esperando a aprovação do plano para colocar suas prioridades em prática. O carro é um inimigo e já está sendo imobilizado. Ruas foram reformadas criando espaços exclusivos e maiores para ônibus, bicicletas e pedestres. Vários bairros, especialmente os que servem de entrada da periferia para Paris, tiveram ruas interditadas, vias transformadas em praças ou calçadas e a velocidade limitada a 30 km/h.
O estacionamento gratuito na rua está sumindo. O preço para parar o carro perto de casa é bem mais barato do que o perto do emprego, por exemplo. No PLU, está previsto o fim da obrigatoriedade de fazer estacionamentos em novos prédios comerciais.
Em contrapartida, a prefeitura aumenta a eficiência do transporte público -que conta com um metrô com 16 linhas e 300 estações e ainda ônibus e trens urbanos- por meio da criação de corredores de ônibus e de uma linha de "tramway", o bonde sem fios.
Delanoë quer uma cidade mais agradável e com mais empregos. O plano de urbanismo prevê a criação de novos bairros e o reordenamento de outros com áreas para escritórios e comércio.
Nos últimos anos, além de perder empregos, Paris expulsou os moradores mais pobres com seus preços imobiliários muito elevados. O prefeito quer atraí-los para esses novos bairros e reintroduzi-los nas regiões mais ricas, para que a cidade tenha pelo menos 20% de habitações populares.
A prefeitura comprou e reformou um prédio no "seizième", bairro sofisticado, e ofereceu os apartamentos a famílias de baixa renda por aluguéis pelo menos um quinto mais baixos que os de mercado. Na TV, um dos vizinhos disse: "Acho boa a idéia, mas eles precisam saber que um quilo de tomate custa aqui 8 (R$ 30)".
No questionário sobre o PLU, há uma pergunta sobre a construção de prédios altos, com a ressalva de que seriam casos específicos, não uma liberação de altura que descaracterizaria a cidade. O assunto é explosivo, e Delanoë afirma que só quer abrir o debate. "Jamais eu faria vandalismo contra o patrimônio que temos, mas não quero que a cidade seja imutável", disse. Ao mesmo tempo em que propõe dobrar o número de imóveis protegidos de demolição e alteração, o plano de Delanoë quer incentivar a "criação arquitetural contemporânea".

Outras cidades
Para vencer os engarrafamentos e reduzir a poluição, Londres optou por uma só medida, mas bem mais radical que as muitas adotadas por Paris. Para circular numa área central de 20 km2, é preciso pagar um taxa diária de cerca de R$ 26. Os infratores correm o risco de serem flagrados por 800 câmeras fotográficas. O pedágio eletrônico reduziu o tráfico em 16% logo nos seis primeiros meses.
Na capital norueguesa, Oslo, o tráfico é desestimulado no centro com taxas e fechamento de ruas. Em Cingapura, o pedágio urbano existe desde 1975 e é variável de acordo com os horários. Em Roma, desde 1997, é preciso pagar uma taxa anual para andar de carro no centro histórico. A Alemanha aumentou as taxas cobradas dos carros que poluem mais.


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