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Chávez nacionalizará banco de grupo espanhol
Venezuela anuncia compra de filial do Santander, que negociava venda a setor privado
Banco de Venezuela é um
dos maiores do país e foi
privatizado em 1996; onda
de estatizações começou
após reeleição de Chávez
DA REDAÇÃO
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, anunciou ontem
que nacionalizará o Banco de
Venezuela, um dos maiores do
país e unidade local do gigante
espanhol Santander, concretizando suas promessas de aumentar a presença do Estado
no sistema financeiro.
"Vamos nacionalizar o Banco
de Venezuela. Faço um chamado [ao grupo Santander] para
que venham para começar a negociar", instou Chávez em cadeia de rádio e TV.
Segundo o presidente, a nacionalização foi necessária porque o grupo Santander teria se
negado a vender o Banco de Venezuela ao governo, embora estivesse negociando com um
comprador venezuelano.
O Estado barrou o negócio
quando dependia só da autorização do governo, disse Chávez.
"Eles queriam vender o banco a um banqueiro venezuelano, e eu, chefe de Estado, disse
não. Vamos recuperar o Banco
de Venezuela, nos faz muita falta um banco dessa magnitude",
contou o presidente, que disse
ter documentos para provar a
negociação entre os privados.
"Não entendo, há algo obscuro aí. Estavam desesperados
para vender o banco, inclusive
tratando de me pressionar,
porque isso, porque aquilo. Eu
não aceito pressões", acusou.
O Banco de Venezuela é o
terceiro maior do país, tem
10,7% dos depósitos, 285 agências e 3 milhões de clientes, de
acordo com o balanço semestral do Santander. A unidade foi
responsável por 2% dos lucros
da matriz (US$ 170 milhões).
Foi comprado pelo Santander (controla 98,4% das ações)
em 1996, quando o governo de
então o privatizou dois anos depois de tê-lo estatizado, em
meio a uma crise financeira.
Conveniência e arestas
Nacionalizar, no governo
chavista com caixa cheio pela
alta do petróleo, não tem, em
geral, significado expropriação.
Na prática, é a quase obrigatoriedade de venda para o governo, em seus termos, ou a renegociação de contratos -caso
das petroleiras-, sob a ameaça
de expropriação clássica (tomada pelo Estado sem indenização) ou disputa judicial em
caso de desacordo.
O anúncio sobre o banco do
grupo Santander acontece um
dia antes de expirar o prazo de
18 meses dos chamados superpoderes de Chávez, mecanismo
pelo qual estava autorizado pelo Legislativo a governar por
decreto em 11 áreas, incluindo
energia e finanças. Nesse período, nacionalizou empresas de
setores estratégicos (leia quadro nesta página), mas teve de
recuar, por exemplo, quanto à
controversa lei de inteligência.
Analistas, entre eles o venezuelano Asdrúbal Oliveros, da
consultoria Ecoanalitica, dizem que, apesar do tom do
anúncio, não se espera "traumas" na eventual compra do
banco -o negócio giraria em
torno de US$ 1,9 bilhão.
As ações do banco chegaram
a se valorizar na bolsa local ante
os rumores da venda, dada como certa, mas que foram negados formalmente. Até o fechamento desta edição, não havia
comentários do Santander.
"Não faltarão manchetes dizendo que Chávez afeta a Espanha", disse o presidente. Ele
acusou os jornais espanhóis de
quererem "prejudicar as relações que acabam de se recompor". Na semana passada, o venezuelano encontrou pela primeira vez o rei espanhol, Juan
Carlos, com quem discutiu na
Cúpula Ibero-americana de
novembro, e deu por encerrada
a crise diplomática iniciada
com o "por que não se cala?" dito pelo monarca ao presidente.
Na época, Chávez ameaçara
nacionalizar empresas espanholas no país. Segundo o jornal "El País", firmas da Espanha investiram US$ 1,9 bilhão
na economia venezuelana desde 1999. Estão lá o banco BBVA,
o grupo de mídia Prisa, dono de
"El País", e a Telefonica.
(FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
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