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Lula recebeu dossiê contra o "embaixador" das Farc
Para Planalto, divulgação de e-mails é pressão para extraditar Olivério Medina
Revista colombiana publica suposta correspondência entre os dirigentes da guerrilha que já havia sido revelada pela Folha
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Palácio do Planalto vê
pressão política por traz da divulgação, pela revista colombiana "Cambio", de uma coletânea de e-mails atribuídos a dirigentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) citando membros do governo brasileiro. O teor das
mensagens -que o governo colombiano afirma ter encontrado nos computadores pertencentes ao número dois da guerrilha, Raúl Reyes, morto em
março- já havia sido revelado
pela Folha há um mês.
Ontem, um assessor próximo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse à Folha que
o governo da Colômbia quer
"pôr a mão" no ex-padre guerrilheiro Olivério Medina. A
idéia seria usar os e-mails do
computador de Reyes para
conseguir a anulação do status
de refugiado político obtido
por Medina na Justiça e conseguir sua extradição.
Medina, cujo nome verdadeiro é Francisco Antonio Cadena Collazos, vive em Brasília
sob proteção jurídica desde
abril de 2006. Para conseguir
esse benefício, ele se comprometeu a abandonar as atividades políticas, especialmente
aquelas relacionadas às Farc.
Mas as informações coletadas
pelos serviços de inteligência
da Colômbia sugerem que Medina manteve sua militância.
Num e-mail de 19 de janeiro
de 2007, Medina comenta com
Reyes a importância do novo
emprego da mulher, Ângela
Slongo, na Secretaria de Pesca.
"Para evitar que a direita em algum momento a importune, a
deixaram na Secretaria de Pesca, trabalhando no que chamam um cargo de confiança ligado à Presidência da República", disse.
Tratada carinhosamente por
Medina de La Mona, Slongo
atua num programa de alfabetização de pescadores. Para o
embaixador das Farc, uma posição útil. "É possível que dada
sua preparação e conhecimentos sobre o marxismo, seu
aporte seja de utilidade", disse.
Há outras correspondências ao
longo de 2007. O último e-mail
data de 2 de fevereiro de 2008,
no qual Medina trata de preparativos para uma visita da senadora colombiana Piedad Córdoba ao Brasil.
Naturalização
Na visita a Bogotá há duas semanas, Lula recebeu do presidente colombiano, Álvaro Uribe, um relatório informando
que Medina tem participado
informalmente de eventos políticos e até de bancas examinadoras em universidades particulares de Brasília.
De posse desses novos fatos,
o Conare (Comitê Nacional para Refugiados) poderia reavaliar a concessão do status de refugiado, expondo o colombiano
a um novo pedido de extradição. Uribe tem pressa, pois foi
informado que Olivério Medina entrou com pedido de naturalização no Ministério da Justiça. Com cidadania e passaporte brasileiros, ele poderia viajar
sem restrições ao exterior.
O chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, confirmou ontem que a coletânea de 85 e-mails, trocados entre 1999 e
2008, foi entregue ao governo
Lula há mais de um mês, como
revelou a Folha. Ele disse que
"respeita a autonomia" das autoridades brasileiras na análise
da informação. "É o Brasil, com
a informação que tem em suas
mãos, que deve avançar em
apurar eventuais responsabilidades", disse Bermúdez. No governo brasileiro, ninguém quis
se manifestar oficialmente.
Com base nos e-mails, a revista "Cambio" escreveu que as
presença das Farc no Brasil
"chegou até as mais altas esferas" do governo Lula. Nas reportagens publicadas no final
de junho e início de julho, a Folha mostrou que a troca de
mensagens entre dirigentes
das Farc não revelava tal acesso
privilegiado ao governo.
Em alguns casos, os e-mails
sugerem simpatia de certos assessores, mas não demonstram
uma relação institucional do
Palácio do Planalto com o grupo colombiano. A lista de brasileiros citados nos e-mails tem
cerca de 60 nomes, entre vereadores, deputados, senadores,
acadêmicos, juízes, procuradores e ministros. São citados,
além do PT, PDT, PCdoB e
PSol.
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