São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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PLANO COLÔMBIA
Reunido com líderes sul-americanos, presidente diz que região não precisa temer a expansão do conflito
No Brasil, Pastrana quer acalmar vizinhos

France Presse
Policial entrega flores a colega durante enterro de Mauricio Andrés Soto, morto em Bogotá durante manifestação contra Clinton



ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente colombiano, Andrés Pastrana, chegou ontem a Brasília, onde participa da Reunião de Presidentes da América do Sul, buscando apoio ao Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico, e procurando acalmar os ânimos dos países vizinhos, preocupados com o possível "transbordamento" do conflito local.
"O Plano Colômbia é um plano para a paz, não para a guerra", afirmou Pastrana ontem à tarde, ao desembarcar na Base Aérea de Brasília. "Não há o que temer, pelo contrário. Os confrontos na fronteira e os refugiados são decorrentes de problemas internos do país, e não do Plano Colômbia, que visa combatê-los."
Pastrana renegou, no entanto, a condição de principal "estrela" da reunião. "A Colômbia não é o tema da cúpula. O plano não é sul-americano, é um plano da Colômbia", disse, acrescentando, porém, que precisa de ajuda externa, como "já fizeram os EUA e alguns países europeus".
O Plano Colômbia prevê investimentos de US$ 7,5 bilhões no combate ao narcotráfico, dos quais US$ 1,3 bilhão será financiado pelos Estados Unidos, com equipamentos militares e treinamento ao Exército colombiano.
Teme-se, no entanto, um acirramento do confronto do governo com as guerrilhas de esquerda, principalmente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior delas, acusadas de dar proteção aos plantadores de coca e aos narcotraficantes em troca de "pedágios".
Outros presidentes presentes em Brasília para a reunião voltaram ontem a demonstrar preocupação com a questão, mas relutam em se comprometer com promessas de ajuda à Colômbia.
"Todos queremos a paz na região, mas nos preocupa o forte componente militar do plano", afirmou ontem o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que no dia anterior havia dito que teme uma "vietnamização" da região.
"Talvez o Brasil e a Venezuela não tenham, juntos, o número de helicópteros e de instrumentos de guerra aplicados na Colômbia. Isso pode levar a uma escalada militar na região", disse ele.
Chávez afirmou que seu país está reforçando seus mais de 2.200 km de fronteira com a Colômbia com presença militar e também humanitária, para receber possíveis refugiados do conflito.
Segundo Chávez, a questão da Colômbia foi discutida no encontro reservado que ele teve na noite de anteontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Coincidimos na visão dupla que temos sobre o momento do conflito colombiano. Damos apoio pleno à busca da paz, e cremos que isso é possível, mas também concordamos na preocupação com a parte militar do plano."
O presidente da Argentina, Fernando de La Rúa, disse ontem esperar que Pastrana detalhe o plano na reunião para os colegas. Ele descartou, no entanto, uma ajuda militar da Argentina ao país.


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